David Bowie: o homem que caiu na Terra e o mundo que ele inventou

Ele foi um artista à frente de seu tempo, à frente de seus pares, basicamente por saber usar o som e a visão a seu favor

atualizado 12/01/2016 4:41

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Reprodução

“Don’t you wonder sometimes about sound and vision?”, provocava David Bowie, nos idos de 1977. Você, às vezes, não fica a admirar o som e a visão?

David Bowie foi um artista à frente de seu tempo, à frente de seus pares, basicamente por saber usar o som e a visão a seu favor. Mais do que um compositor afiado e um baita melodista, naquela escola britânica de Paul McCartney e Elton John, nosso herói David Robert Jones (1947-2016) sabia que o impacto da música pode – e deve – ser maior do que a própria música.

Antes de a MTV deixar evidente o apelo da imagem na música pop, antes de a internet ter permitido que os mais diferentes campos de informação colidissem e formassem um tecido transversal, Bowie intuía que já não bastava ser um só.

Qual o seu David Bowie pessoal?

https://www.youtube.com/watch?v=v–IqqusnNQ

Individual

David Bowie se lançou na indústria fonográfica britânica, em meados dos anos 1960, pegando o vento do folk urbano de Bob Dylan e os eflúvios psicodélicos da Swingin’ London. Antes disso, tinha estudado um bocadinho de design e publicidade. E sua carreira artística só engrenou para valer, no início dos anos 1970, quando bolou uma mitologia para si próprio.

Como numa profecia autorrealizável, ao criar para si a persona de um rockstar, ele de fato se tornaria um rockstar. Virou Ziggy Stardust. Um ser andrógino que caiu na Terra e tocava guitarra elétrica com a mão esquerda. Um Jimi Hendrix do espaço sideral. Que seria imolado em praça pública, ou melhor, sobre o palco, durante um concerto. Para que o criador sobrevivesse à criatura.

E assim David Bowie foi adiante. Sem se amarrar a modinhas, porque elas vêm e passam ao sabor de cada estação, mas sempre atento aos sinais do mundo exterior. Ziggy Stardust tinha trazido com ele o apelo da sci-fi e da ambiguidade sexual. E Bowie foi buscar nos Estados Unidos as companhias de Iggy Pop, ainda nos Stooges, e Lou Reed, recém-saído do Velvet Underground, dois personagens tão gauches quanto Ziggy Stardust, e bem mais genuínos porque reais.

https://www.youtube.com/watch?v=lVgk7wYeZHw

Imprevisível
Portanto, Bowie não apenas inventou o glam rock com as lantejoulas de Ziggy Stardust como também se tornou um padrinho do punk, ao abraçar a sonoridade áspera e a lírica decadente de Lou e Iggy. Mais adiante, incorporaria a soul music da Filadélfia e o funk sintético da disco music, assim como cruzaria de volta o Atlântico e se mudaria para Berlim, tentando entender a dinâmica do pioneiro eletrônico alemão Kraftwerk e se embrenhando nas paisagens sintetizadas do produtor e gênio de estúdio Brian Eno.

Pelo caminho, inspirou todo o pop dos anos 1980, do Duran Duran ao The Smiths, e todo o pop dos anos 1990, do Suede ao Placebo, garantindo assim que bastardinhos mil de David Bowie pipocassem indefinidamente por todo o planeta, até hoje, nos mais diferentes trejeitos e filiações.

Mesmo nas últimas décadas de carreira, quando a maior parte de seus colegas e contemporâneos já tinha sucumbindo à indolência do jet set e se limitado a encher grandes arenas com os sucessos de sempre, David Bowie permanecia inquieto.

Montou uma banda, a Tin Machine em 1988, inspirada no chamado college rock americano e mais tarde gravou uma música dos Pixies (“Cactus”, do disco “Heathen”, de 2002). Entre um momento e outro, flertou com o industrial (no álbum “Outside”, 1991) e com o drum’n’bass (no álbum “Earthling”, 1997). E agora há pouco, mesmo doente, saiu de casa para fazer backing vocals numa música do Arcade Fire (“Reflektor”, 2013). Comentava com amigos que curtia Boards of Canada, Death Grips e Lorde.

Infinito
“As Vantagens de Ser Invisível” (2012) é um filme que o escritor americano Stephen Chbosky adaptou e dirigiu a partir de seu próprio e homônimo livro de 1999. Traz a história de um trio de adolescentes, desajustados no ensino médio, da industrial cidade de Pittsburgh, Pensilvânia.

Lá pelas tantas, no filme, os personagens de Emma Watson, Logan Lerman e Ezra Miller pescam por acaso uma música no rádio do carro. Eles não conhecem a canção, e talvez até por nunca a terem ouvido antes, eles vivem ali um instante de magia.

Como aqueles eram os anos 1990, os garotos levam praticamente o filme inteiro para encontrar aquela canção de novo, para descobrir exatamente que música era aquela. E tentar viver de novo aquele momento.

Era “Heroes”, de David Bowie.

Encontre, você também, o seu David Bowie pessoal. Encontre já sabendo que, ali adiante, você pode escolher um outro, um segundo, um terceiro David Bowie pessoal. Que ele era tantos. Que ele é infinito.

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