Crônicas de vida, de qualquer lampejo de existência que cante no coração da cronista

A armação de JK para que Toniquinho fizesse a pergunta histórica

Juscelino precisava de uma cena teatral, de um impacto popular, para anunciar o que pretendia: tirar a capital do Rio e trazê-la para Goiás

atualizado 24/11/2019 18:55

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Arquivo/Prefeitura de Jataí - GO

A manhã chuvosa de 4 de abril de 1955 deu um destino histórico à vida de um jovem corretor de seguros de uma cidade escondida no sertão goiano. Desde que perguntou ao então candidato Juscelino Kubitschek se ele, caso eleito, cumpriria a Constituição e faria a transferência da capital do país para o Planalto Central, Antônio Soares Neto, o Toniquinho, fez da pergunta a razão de seu viver. Juscelino, de pronto, anunciou que iria sim construir uma nova capital do Brasil em território goiano.

Sabe-se que Toniquinho foi induzido a fazer a pergunta para que Juscelino pudesse dizer o que pretendia ao eleitorado goiano, que havia décadas sonhava em acolher a nova capital do país.

“Brasília já era caso pensado”, disse, certa vez, o coronel Affonso Heliodoro, subchefe da Casa Civil de Juscelino na Presidência da República. Construir uma nova capital no coração do Brasil era um gesto simbólico à altura do Plano de Metas do então candidato. Se era para ligar as cinco regiões do país numa rede viária, a transferência da capital do litoral para o sertão seria a representação mítica, embora concreta, de um projeto de Nação. E, de quebra, JK se livraria da pressão política e popular do sempre inquieto Rio de Janeiro.

Biógrafo de Juscelino, Ronaldo Costa Couto conta em “O essencial de JK” que o então candidato escolheu cuidadosamente a cidade de Jataí, território pessedista (de PSD, o partido de JK), para anunciar o que já havia decidido: a construção de Brasília (que ainda não tinha esse nome), a meta-síntese, um monumento urbano que simbolizasse as conquistas pretendidas.

Interiorização

Cinco meses antes do comício de Jataí, conta Costa Couto, Juscelino havia conversado com o então governador de Goiás, Juca Ludovico, sobre a interiorização da capital. JK tinha amplo conhecimento das atividades da Comissão de Localização da Nova Capital. Sabia que cinco áreas já haviam sido identificadas, estudadas e delimitadas pela empresa norte-americana Donald Belcher para que numa delas fosse erguida a nova capital.

Juscelino seria trucidado se dissesse aos jornalistas do Sudeste da decisão de, caso eleito, mudar a capital para o interior de Goiás. Era preciso ficar perto dos que mais desejavam a transferência. E, melhor ainda, se fosse uma resposta do candidato a um anseio popular. “Coisa fácil de combinar ou induzir”, escreve Ronaldo Costa Couto.

Se ele tirasse o coelho da cartola sem que o público esperasse pelo gesto mágico, a notícia poderia se perder na verborragia dos comícios. Era preciso uma cena teatral, uma invocação popular, que desse ao anúncio a ressonância pretendida.
Traquinagem

Claro que Juscelino jamais admitiu a traquinagem política. Em “Por que construí Brasília”, ele reforça a versão que maquinou:

Em determinado momento do comício, “uma voz forte se impôs, para me interpelar”. Toniquinho então cumpriu seu papel: ofereceu a cartola e o coelho para o mágico. “A pergunta era embaraçosa”, diz Juscelino na autobiografia. O candidato não se intimidou ante o tamanho da promessa, feita para um público que esperava por ela com ansiedade quase religiosa: “Se for eleito, construirei a nova Capital e farei a mudança da sede do governo”.

JK completa: “Essa afirmação provocou um delírio de aplausos”.

O plano tinha dado certo. Daquele dia em diante, nascia o Toniquinho JK, que morreu nessa quinta-feira (21/11/2019) aos 94 anos.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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