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Que tal a chapa Tarcísio e Michelle para derrotar Lula em 2026?

O preço de ser sincero e um bom analista

atualizado 22/03/2025 7:34

Divulgação/ Sergio Barzaghi/ Governo de SP

No início dos anos 1900, quando minha vida cruzou com a de marqueteiros políticos brilhantes como Geraldo Walter de Souza Filho, Duda Mendonça, Sérgio Amado, Fernando Barros e João Santana, entre outros, a discrição era a alma do negócio.

Sabia-se que eles existiam e influenciavam os destinos do país, mas em primeiro lugar estavam os candidatos, e segundo seus porta-vozes oficiais ou não. Marqueteiro não se expunha. Quando muito, passadas as eleições, comentava seus resultados.

Diziam que o candidato era quem ganhava eleição, eles não. Por conseguinte, era também o candidato que perdia. Eles não reinventavam o candidato, limitavam-se apenas a jogar luz sobre seus pontos fortes e sombra sobre os pontos fracos.

Não era bem assim e jamais foi, como pude acompanhar por dentro em algumas campanhas. Mas admitir que não era poderia custar-lhes o emprego, e no futuro eventuais contas de governos e prefeituras. Os segredos do teatro ficam escondidos nas coxias.

Havia entre os jornalistas uma certa má vontade com eles. Os jornalistas que enveredavam pelo marketing mesmo que temporariamente eram discriminados se pretendiam um dia voltar às redações. Tornavam-se suspeitos. Sofri para voltar.

Mas cá estou. A rápida incursão pelas áreas da propaganda e do marketing me fez entender melhor a política da maneira como ela é e sempre foi feita – com muita purpurina, adereços e máscaras, e hoje também com base em avanços científicos e tecnológicos.

É por isso que os marqueteiros ganharam uma importância que antes lhes era negada. Viraram celebridades com o advento da internet e das redes sociais. São convidados para fazer palestras ou estrelar programas de televisão. Opinam sobre quase tudo.

O jornal O Globo publica uma vez por semana entrevistas com marqueteiros que dissertam sobre o governo Lula, o quadro atual da política e o seu eventual impacto nas eleições gerais do próximo ano. É uma série muito interessante que recomendo.

A entrevista desta semana foi com Pablo Nobel, marqueteiro de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo.  Enquanto Tarcísio nega que se candidatará à Presidência da República em 2026, Nobel afirma o contrário.

Nascido em Buenos Aires, Nobel tem um extenso currículo que inclui a campanha vitoriosa de Tarcísio em 2022 e a ajuda que deu para eleger na Argentina o presidente Javier Milei. O que disse ao Globo sobre Tarcísio repercutiu muito entre os bolsonaristas.

Entre outras coisas, Nobel disse:

“Está claro que Tarcísio é absolutamente leal a Bolsonaro e não fará nenhum movimento para prejudicá-lo. […] Vai esperar uma decisão do Bolsonaro para dar os próximos passos. Não existe ser candidato ao Planalto contra a vontade do ex-presidente.”

“[…] Bolsonaro ainda acha que será o protagonista na eleição de 2026. Esse clique de que pode ser diferente ainda não aconteceu. Bolsonaro tem a crença de que vai reverter a inelegibilidade determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral. […]”

“[…] Não sei se a virada estará aí. Mas sim, acho que será preso provavelmente em setembro. […] O clima de injustiça com a prisão pode mobilizar e emocionar as ruas. Vai ser um tiro no pé da esquerda. Bolsonaro pode virar um mártir do conservadorismo e o movimento, que hoje tem tantos candidatos, pode se unir.”

“Quando fiz a campanha do Tarcísio para governador, disse a ele uma frase que se mantém real até os dias de hoje. Sem o Bolsonaro, não dá. Só com o Bolsonaro, não basta.”

“Apesar de toda a lealdade, Tarcísio não é o Bolsonaro de garfo e faca. Ele é o Tarcísio e ponto. Alguém com outra forma e embocadura, que tem uma excelente gestão no estado. Resumi-lo a ser uma versão bem-educada e bem-vestida de Bolsonaro não se encaixa com a realidade dos fatos.”

“Michelle Bolsonaro [seria uma boa vice para Tarcísio]. Por três fatores: é uma mulher, traz o sobrenome Bolsonaro para dentro da chapa e tem capacidade de dialogar com o segmento evangélico. Tarcísio é católico, seria ótimo”.

Os bolsonaristas de quatro costados detestaram a fala de Nobel. Ela reforçou a visão deles de que Tarcísio é um oportunista e só fiel a Bolsonaro porque precisa do seu apoio para se eleger presidente. Evidente exagero. Nobel foi somente sincero e um bom analista.

 

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