Melhor já irem se acostumando com o naufrágio do PSDB depois da tentativa malsucedida de apresentar-se como a única via possível para evitar a escolha do próximo presidente da República entre Lula e Bolsonaro. Quem confiará em um partido que sequer consegue votar em seus próprios candidatos?
Não é sobre o aplicativo que deu tilt, mas sobre o partido que deu. Erros em aplicativos se corrigem ou então troca-se de aplicativo. Erros cometidos por um partido, se não corrigidos a tempo, acabam por implodi-lo. Eleição se ganha e perde-se, é jogo jogado. Alguma coisa sempre se aprende com isso.
O PSDB nada aprendeu com as eleições presidenciais dos últimos 19 anos, e nada esqueceu. Não aprendeu a mais elementar das lições: rachado, partido não vence. Aconteceu em 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018. Tem tudo para acontecer ano que vem, não importa qual seja o candidato, João Doria ou Eduardo Leite.
Eleição primária é um instrumento moderno, democrático e transparente de escolha de candidatos. Serve para superar eventuais divergências e promover a conciliação interna ante uma batalha sangrenta que se aproxima. Então, adversários pontuais dão-se as mãos para enfrentar o inimigo comum. Vida que segue.
O instrumento da eleição primária foi escrachado e logo pelo partido que tinha a fama de ser o mais contemporâneo entre os 33 que enfeitam a democracia em construção por aqui. A fantasia da cordialidade vestida em conjunto pelos que disputam a indicação para candidato está rota e não tem mais como ser remendada.
Leite acusa Doria de comprar votos para se eleger e ameaça não reconhecer a derrota anunciada. Doria acusa Leite de querer melar a eleição porque está fadado a perdê-la. Arthur Virgílio acusa Leite de estar a serviço do deputado Aécio Neves que é um bolsonarista enrustido. Aécio acusa Arthur de ser um político insignificante.
Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB, assiste calado e à distância ao suicídio coletivo do partido. Está pronto para votar em Lula se só lhe restar essa opção para livrar o Brasil de Bolsonaro. Geraldo Alckmin, a assinatura de número 7 da ata de fundação do PSDB, está de malas prontas para deixá-lo.