Brasília nasceu de um concurso de urbanismo e arquitetura. No fim da década de 1950, o governo de Juscelino Kubitschek procurava um projeto inspirador para criar a capital federal e lançou o desafio: imaginar do zero uma cidade inteira, no meio do Planalto Central. Lúcio Costa venceu, chamou Oscar Niemeyer para criar os monumentos públicos e assim surgiu o Plano Piloto.
A prática continuou pelas décadas seguintes, enquanto o DF ainda ganhava corpo. A Câmara Legislativa e a Ponte Juscelino Kubitschek, por exemplo, são fruto da imaginação de arquitetos que venceram disputas públicas.A capital virou referência quando se fala em concursos de arquitetura, por ser uma das cidades que mais abre editais. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (CODHAB/DF), responsável pela implementação das competições, já lançou 11, nos últimos três anos. Segundo o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB- DF), este número é um marco e exemplo, se comparado ao resto do país.
Alguns escritórios da capital vêm se destacando no cenário nacional e levam a inspiração modernista, o conhecimento do funcionalismo público e o estilo de vida na cidade para outros estados. O escritório Arqbr, dos arquitetos Eder Alencar e André Velloso, por exemplo, já ganhou vários concursos. Em janeiro, começa a ser construído, em João Pessoa (PB), o prédio do Ministério Público da Paraíba. E nos próximos meses, deve ser iniciada, no Distrito Federal, a obra das Unidades Habitacionais Coletivas de Sobradinho.
Um escritório novo, como o nosso, demoraria anos até conseguir fazer projetos desse porte. Que grande oportunidade de se expressar.
André Velloso
Os dois arquitetos se formaram na capital e explicam que a vivência entre os princípios do modernismo certamente está estampada no trabalho. “Nós absorvamos a cidade de uma forma particular. Cada arquiteto traduz essa influência em seus projetos, é como vivemos e compartilhamos”, conta Eder.
Veja os projetos vencedores do escritório:
Outro escritório que se destaca é o MRGB, dos arquitetos Igor Campos, Hermes Romão e Rodolfo Marques. Igor, em parceria com Gabriela Müller e Gustavo Costa, da Atria Arquitetos, ganhou o concurso da Embaixada do Kuwait e o MRGB, em trabalho conjunto com o Arqbr, ficou em segundo lugar na competição para criar o Centro de Ensino Fundamental — Parque do Riacho e em terceiro em outros dois: Unidades Habitacionais Coletivas em Samambaia e Unidade Básica de Saúde — Parque Riacho Fundo.
“O processo de criação se transforma em crescimento pessoal e intelectual para todo mundo do escritório. Normalmente, os prazos são curtos e o material muito extenso, mas no fim a experiência é sensacional. Inclusive o pós: conseguimos comparar com a produção dos outros arquitetos e aprender algumas coisas que podem ser levadas para outros projetos”, explica Hermes.
Conheça alguns dos projetos do trio:
De acordo com Anderson Fioreti, então presidente em exercício do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), os concursos de arquitetura aumentam a qualidade dos prédios públicos e tornam acessível o que há de novo no mundo do design.
Ainda segundo o especialista, a probabilidade de superfaturamento também diminui muito. “Da forma como é feito o processo tradicional de licitação, o governo compra um pacote pronto, mas sem o projeto detalhado, abrindo espaço para gastos muito maiores do que os antecipados”, explica.
Isso porque, em licitação simples, a empresa vencedora faz o projeto como bem entender, não necessariamente de forma mais interessante para a sociedade. “Na licitação, recebo um papel. Em compensação, no concurso, me entregam o projeto tridimensional. Vejo imediatamente o que estou contratando”, explica Gilson Paranhos, presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Cohab/DF).
Célio da Costa Melis Junior, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB- DF), também engrossa o coro. “Defendemos esta como a forma mais transparente. Além disso, o processo oferece maiores possibilidades de inovação e de encontrar soluções inteligentes e elaboradas que beneficia a cidade e a sociedade. A margem de erro nesses casos cai a 5%”, diz.
Em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), o IAB inclusive lançou seu próprio concurso com o objetivo de achar projetos de sedes das duas instituições. O resultado já foi divulgado e a obra agora espera o fim da licitação para dar início à construção.