Uma semana depois da Ômicron ser classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma variante de preocupação, faltam detalhes sobre suas características de transmissibilidade e letalidade, bem como sobre a capacidade de proteção das vacinas atuais perante a nova variante.
A Ômicron possui mais de 50 mutações, sendo 32 delas na proteína spike, usada pelo coronavírus para se ligar às células humanas. Esta mesma proteína é a base utilizada por algumas vacinas para ensinar o organismo a combater o vírus.
Os principais desenvolvedores de vacinas correm contra o tempo para descobrir se seus imunizantes serão capazes de evitar hospitalizações e mortes provocadas pela Ômicron ou se as fórmulas deverão ser atualizadas para garantir uma resposta imunológica adequada.
Saiba mais sobre a variante Ômicron do coronavírus:
Veja o que se sabe sobre as vacinas e a variante Ômicron até aqui:
Algumas vacinas podem ser mais eficazes contra a Ômicron?
Os primeiros estudos científicos devem ser divulgados a partir da próxima semana, no entanto, especialistas em vacinas acreditam que a Coronavac, desenvolvida pela chinesa Sinovac, possa ter uma vantagem sobre as demais.
A explicação para isso é simples. O imunizante distribuído no Brasil pelo Instituto Butantan utiliza o vírus inteiro inativado em sua fórmula para ensinar o corpo a combatê-lo. As vacinas de mRNA – como as da Pfizer/BioNTech e Moderna –, por sua vez, são produzidas apenas com um pedaço isolado do vírus, a proteína spike.
“Em teoria, a Coronavac teria uma vantagem porque usa o vírus inteiro e, consequentemente, conseguiria fazer o “reconhecimento” do invasor de maneira mais efetiva, ativando o sistema imune para produzir mais anticorpos, ao contrário das vacinas de mRNA que se valem da spike como instrução”, afirma a infectologista Ana Helena Germoglio.
Mas, ainda é cedo para afirmar se as 32 mutações encontradas na proteína spike conseguem atrapalhar a proteção do corpo desenvolvida pelas fórmulas atuais. A resposta imunológica compreende a humoral, desencadeada pelos anticorpos, e a celular, desempenhada pelas células T. “Em tese, a resposta das células T não é afetada por mutações”, explica a médica.
Vale a pena se vacinar com as fórmulas disponíveis mesmo após a Ômicron ter chegado ao Brasil?
Sim. Mesmo que as mutações encontradas na nova variante prejudiquem a resposta imunológica gerada pelas vacinas, os imunizantes atuais são recomendados. “Alguma proteção é melhor do que nenhuma”, afirma a infectologista Ana Helena Germoglio.
Além disso, é preciso levar em consideração que o país ainda tem grande circulação das variantes Gama e Delta e que as vacinas garantem proteção contra as duas.
A variante Ômicron é mais letal do que as demais?
Até aqui, nenhuma morte relacionada à infecção pela variante Ômicron foi registrada e há um grande número de pacientes tiveram apenas sintomas leves ou com quadro assintomático. “A gente imagina que as vacinas ainda são eficazes contra a forma grave e que essa variante nova, apesar de se mostrar bastante transmissível, não evolui tanto para casos graves”, explica a médica Ana Helena Germoglio.
Mas ela observa que são necessárias mais informações sobre o assunto pois, na África, os casos estão associados a pacientes jovens não vacinados. “Os jovens tendem, por si só, a não desenvolverem as formas graves da doença”, pondera.
O que muda em relação as cuidados contra a variante Ômicron?
Para continuar se protegendo contra o coronavírus, as precauções adotadas até aqui seguem valendo. “ O uso de máscara é recomendado, bem como o distanciamento social e a limpeza frequente das mãos”, afirma a infectologista. “A Ômicron não muda regras gerais para evitarmos a transmissão viral”, afirma.
A médica lembra que a vacinação, com duas doses e reforço, é a medida principal de precaução, mas não garante que as pessoas não sejam infectadas, por isso usar máscaras e evitar aglomerações de pessoas seguem como ações acertadas.