São Paulo — O barbeiro Renan Santana, de 29 anos, diz que sempre teve jeito para cortar cabelo de crianças. Mas foi com um vídeo cortando as mechas de um menino autista que sua fama se popularizou dentro e fora da cidade de Mauá, onde vive e trabalha, na região metropolitana de São Paulo.
As imagens mostram o atendimento ao menino Nicolas, apresentado no vídeo como uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) com grau de suporte nível 2.
Nas cenas, Nicolas parece desconfortável no início do atendimento. De boné, ele chora sempre que o cabeleireiro tenta tirar o acessório. Renan, no entanto, vai interagindo aos poucos com o menino e, entre uma brincadeira e outra, consegue ganhar sua confiança até fazer o corte. Veja:
O vídeo viralizou nas redes sociais e superou a marca de 15 milhões de visualizações no Instagram. Desde então, Renan conta que sua clientela de crianças atípicas aumentou. “Isso faz parte de mais de 90% da minha agenda hoje”, afirma.
Ao Metrópoles, o barbeiro contou ter levado 1h20 para começar a cortar o cabelo de Nicolas, mas disse que essa não foi a abordagem mais longa que já teve. Certa vez, ele chegou a dividir um atendimento a outra criança em duas datas. “A gente levou uma hora e meia a cada dia”, lembra o jovem.
Ele diz que o trabalho mais complexo é fazer com que as crianças se sintam confortáveis. Depois disso, é uma “coisa de minutos” até que o corte seja feito. “Eu tento fazer com que a criança entenda que aquilo é uma brincadeira. Então já aviso os pais: ‘se tiver que demorar uma, duas, três horas, separa esse horário’”.
O resultado, afirma, envolve também uma parceria com os responsáveis, que falam sobre os medos das crianças e dão dicas do que elas gostam.
Renan ainda lembra o primeiro atendimento que fez com uma criança atípica, há três anos. Na época, a mãe de um menino perguntou se ele não “aceitaria o desafio”, explicando que seu filho tinha trauma com barbearias. Ele aceitou e o corte deu certo.
“Foi uma virada de chave para mim. [Passei a] entender que talvez não seja só um corte e, sim, curar um trauma”.
Dali para frente, um cliente foi indicando outro, até que ele recebesse mais e mais atendimentos voltados a esse público. Os vídeos nas redes sociais também ajudaram. A mãe de Nicolas, por exemplo, chegou até Renan depois de ver outro conteúdo, que também viralizou, mas teve alcance menor.
“Por graça e misericórdia de Deus, até hoje nenhum baby saiu da minha barbearia sem cortar o cabelo”, afirma ele, orgulhoso.
A barbearia de Renan não tem um espaço infantil e alguns poucos brinquedos servem de aliados na hora de entreter os pequenos. O sonho agora é construir um salão exclusivo para os atendimentos. Hoje, ele cobra R$ 70 para cortar o cabelo das crianças. Uma das metas é, em breve, abrir seu espaço ao menos uma vez por mês para oferecer atendimento gratuito a quem não consegue bancar.
