São Paulo — De janeiro até 3 de dezembro deste ano, foram confirmados 1.096 casos e três óbitos por coqueluche em todo o estado de São Paulo. O número é 20 vezes maior que o registrado no ano passado pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do estado, quando 54 casos foram confirmados. Não houve mortes em decorrência da doença em 2023.
Em relação ao último boletim divulgado neste ano, observa-se um aumento de cerca de 26% dos casos da doença em menos de um mês, já que o estado confirmou 870 casos até 11 de novembro de 2024.
Na capital, 618 casos de coqueluche foram registrados em 2024, segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Nenhum óbito em decorrência da doença é registrado na cidade há cinco anos, sendo o último ocorrido em 2019. Em comparação com o ano passado, em que foram confirmados apenas 14 casos da doença no município, há um crescimento de mais de 4.300%.
Segundo o infectologista Thiago Morbi, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o aumento de casos verificado no estado paulista já pode ser considerado um surto de coqueluche. “A definição de surto é um aumento no número de casos acima da média histórica que nós temos. No ano de 2020, com a pandemia de Covid, o número de casos caiu, girando em torno de 200, 100 casos”, explicou.
Surto global
No Brasil, de acordo com o painel epidemiológico do Ministério da Saúde, foram registrados 4.394 casos da doença entre janeiro e 27 de novembro deste ano — o que corresponde a 20 vezes o número de casos confirmados em 2023, de 214.
No entanto, Thiago Morbi explica que esse aumento do número de casos não é exclusivo do Brasil. O aumento da doença neste ano em alguns estados brasileiros e em países da Europa, da Ásia e da Oceania preocupa autoridades de saúde de todo o mundo.
A principal população acometida pela coqueluche são as crianças, e o maior número de óbitos está associado àquelas com menos de 6 meses de idade, principalmente as que não completaram o esquema vacinal.
De acordo com o infectologista, o surto global se deve justamente à baixa adesão vacinal contra a doença. “Especificamente no Brasil, nós vemos que a taxa de adesão vacinal estava muito baixa nos anos anteriores. Em 2018 e 2021, girava em torno de 70%. Valendo lembrar que o ideal, que a gente considera efetivo para conseguir quebrar a cadeia de transmissão da doença, é uma taxa de vacinação acima de 95%”, afirmou.
Vacinação
O médico reforça que a vacinação é a principal forma de prevenção contra a coqueluche. No Brasil, a principal vacina contra a coqueluche é a pentavalente, distribuída gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). No estado de São Paulo, a adesão até setembro deste ano foi de 86,1%. Já na capital, a cobertura vacinal chega a 93,85%.
A partir disso, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) orienta pais e responsáveis a levarem as crianças à Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima para atualizar a caderneta de vacinação. Na consulta, o histórico de imunização pode ser acessado, facilitando a aplicação de vacinas que não estão em dia.
A pentavalente é aplicada em crianças menores de 1 ano, em três doses: aos 2, 4 e 6 meses de vida. Além disso, é feito um reforço aos 15 meses de idade e um segundo reforço aos 4 anos de idade com a tríplice bacteriana (DTP), que protege contra difteria, tétano e coqueluche, mas só é indicada para as crianças que tiveram algum caso da doença. Gestantes devem fazer uma dose da vacina do tipo adulto (dTpa) a partir da 20ª semana a cada gestação.
Caso a criança não tenha sido vacinada nestas idades, poderá receber a vacina até os sete anos. Ela é aplicada desde 2012 no lugar da tetravalente, que não protegia contra a hepatite B.
A pentavalente também protege contra difteria, tétano, hepatite B e meningite causada por Haemophilus influenzae tipo b.
O que é a coqueluche?
A coqueluche é uma doença respiratória causada através da infecção pela bactéria Bordetella pertussis. Ela está presente em todo o mundo e se espalha quando uma pessoa não vacinada tem contato direto com um paciente doente.
A tosse seca é o sinal mais característico da doença, que pode atingir também a traqueia e os brônquios. Os pacientes também podem apresentar febre, coriza e mal-estar geral.
Crianças menores de 6 meses são as que mais sofrem com a infecção, com maior risco de doença grave pelos quadros respiratórios e óbitos.
A transmissão da coqueluche ocorre, principalmente, pelo contato direto do doente com uma pessoa não vacinada por meio de gotículas eliminadas por tosse, espirro ou até mesmo ao falar. Em alguns casos, a transmissão pode ocorrer por objetos recentemente contaminados com secreções de pessoas doentes — isso é pouco frequente, porque é difícil o agente causador da doença sobreviver fora do corpo humano, mas não é impossível.
O período de incubação do bacilo, ou seja, o tempo que os sintomas começam a aparecer desde o momento da infecção, é de, em média, 5 a 10 dias, podendo variar de 4 a 21 dias e, raramente, até 42 dias.