Mortes e doenças ligadas a ultraprocessados custam R$ 10,4 bi ao ano

É o que mostra pesquisador da Fiocruz e do Nupens (USP), em estudo encomendado por ONG que defende taxação extra desses alimentos

atualizado 25/11/2024 15:48

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Criança bebendo refrigerante na garrafa - Metrópoles Getty Images

As mortes e doenças associadas ao consumo de alimentos ultraprocessados têm um custo estimado de R$ 10,4 bilhões por ano no Brasil. A conclusão é de um estudo realizado pelo pesquisador Eduardo Nilson, da Fiocruz Brasília e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Universidade de São Paulo (USP).

O levantamento foi feito a pedido da ACT Promoção da Saúde, uma organização não governamental voltada para a promoção de políticas públicas de controle ao tabagismo e ao uso de álcool, além do estímulo à alimentação saudável. A entidade defende que os ultraprocessados sejam sobretaxados na reforma tributária pelo Imposto Seletivo, o “imposto do pecado”. Em contrapartida, reivindica alíquota zero para alimentos in natura.

O valor de R$ 10,4 bilhões leva em conta três fatores. Eles incluem despesas diretas com tratamentos no SUS de casos de hipertensão, obesidade e diabetes tipo 2 relacionados a ultraprocessados. Abarca ainda os custos previdenciários com aposentadorias precoces e licenças médicas, além de perdas econômicas com mortes por todas as causas atribuídas ao consumo desses produtos.

De acordo com o pesquisador da Fiocruz/Nupens, os ultraprocessados incluem ingredientes que habitualmente não são usados no preparo de alimentos (como caseína e isolado proteico de soja), além de aditivos que desempenham uma função “cosmética” para modificar características como a cor, o odor, o sabor ou a textura do produto. Na prática, são guloseimas, biscoitos e balas, mas a lista alcança uma ampla variedade de itens como barras de cereais, misturas para bolos, refrescos e refrigerantes.

Custos diretos

Dos R$ 10,4 bilhões, R$ 933,5 milhões correspondem a custos diretos do SUS por ano, com hospitais, ambulatórios e medicamentos em casos de obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão, doenças crônicas mais prevalentes no país e atribuíveis a ultraprocessados. O valor corresponde a 25% de tudo que é gasto com o tratamento dessas doenças.

Segundo o levantamento, as despesas previdenciárias e com absenteísmo são de R$ 263 milhões por ano. Com isso os custos diretos no tratamento dessas doenças no SUS (hospitalar, ambulatorial e medicamentos/farmácia popular) provocadas por ultraprocessados somam R$ 1,2 bilhão de reais por ano no Brasil.

Mulheres e homens

Os maiores gastos diretos, indica o estudo, referem-se ao tratamento de doenças associadas ao diabetes tipo 2 (41% do total), com hospitalizações e medicamentos do SUS. Os dados ligados à obesidade mostram que os custos com a população feminina são três vezes maiores em relação à masculina. As despesas com os homens, no entanto, são maiores para o diabetes e a hipertensão.

Calorias ingeridas

A ACT aponta que, no Brasil, dados da última Pesquisa de Orçamentos Familiares, conduzida pelo IBGE entre 2017 e 2018, mostram que 19,7% de todas as calorias ingeridas pelos brasileiros são advindas do consumo de alimentos ultraprocessados. Além disso, indica a entidade, 25% da energia da dieta de crianças menores de 5 anos é proveniente desses produtos. Entre 2 e 5 anos de idade, essa proporção é maior, alcançando 30%. Os dados são do recém-lançado Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani/UFRJ).

Custos indiretos

Entre os custos indiretos, o levantamento indica que a economia perde R$ 9,2 bilhões por ano como resultado da mortalidade prematura atribuível ao consumo de produtos ultraprocessados. Esses gastos ocorrem devido à saída de pessoas em idade produtiva do mercado de trabalho por causas de morte que podem ser relacionadas a esses produtos.

Mortes por estado

O estudo especificou ainda a proporção de mortes precoces associadas ao consumo de ultraprocessados em cada estado do país. No Brasil, elas somam 57 mil por ano, o que perfaz 10,5% do total de mortes por todas as causas nesse período.

Em sete regiões do país, porém, esse percentual fica acima da média nacional. Ele chega a 13% no Rio Grande do Sul, o líder do ranking, 12,5% em Santa Catarina, 12,3% em São Paulo, 11,7% no Distrito Federal, 11,1% no Amapá, 10,9% no Rio de Janeiro e 10,7% no Paraná.

Contestação da indústria

Em nota enviada ao Metrópoles, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) contestou o estudo do pesquisador Eduardo Nilson. Diz a entidade: “Trata-se de um relatório superficial, que se baseia em dados de risco relativo, extraídos de estudos já classificados como de baixa qualidade, os quais não foram realizados no Brasil e não incluem informações específicas sobre o país. Portanto, o relatório não reflete a realidade do consumo da população brasileira”.

A Abia acrescenta que a classificação de “alimento ultraprocessado” não possui uma definição clara, “abrangendo mais de 5.700 itens produzidos pelas indústrias brasileiras”. “Entre eles estão produtos como pão, requeijão e iogurte, compondo uma lista extensa e diversificada de alimentos que pouco têm em comum”, diz o comunicado.

Causa preocupação e indignação a disseminação de alegações à sociedade brasileira que atribuem a mais de 5.700 alimentos, produzidos por 41 mil indústrias no país e rigorosamente regulamentados e aprovados por órgãos como a Anvisa e o Ministério da Agricultura, a responsabilidade direta por doenças e mortes.

A nota acrescenta que os “alimentos produzidos pela indústria brasileira passam por rigorosos controles de qualidade e são aprovados não só pelas autoridades nacionais, como internacionais também”. “A confiabilidade desses alimentos é evidenciada pelo fato de o Brasil exportar para mais de 190 países, cumprindo rígidos padrões sanitários de cada mercado”, afirma a associação.

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