O Brasil tem um problema político só. Se a temperatura baixar, se não houver uma crise a cada 24 horas e se os Poderes Executivo e Legislativo tiverem condição de manter relações razoavelmente civilizadas entre si, o governo corre o risco real de dar mais ou menos certo – e se o governo der mais ou menos certo há o risco, maior ainda, de que seja reeleito daqui a três anos.
É indispensável, assim, que todos os que estão do lado de fora e querem passar para o lado de dentro mantenham uma situação de catástrofe permanente, possível e próxima.
O presidente e diversos dos seus ministros, por sua vez, se jogam o tempo todo nesse conflito, como se achassem ótimo o que está acontecendo – assim o “bolsonarismo” se mantém mobilizado, acreditam, e é preciso conservar “a base unida” para ganhar a parada.
O resultado é isso que se vê todo o dia. Por parte dos adversários do governo, há um esforço inédito em encontrar algum atalho que lhes permita vencer a disputa sem ter o incômodo de disputar eleições em 2022 – que prometem ser duríssimas se Bolsonaro fizer uma administração apenas nota 5.
A paz atrapalha
Por parte da situação, há um entendimento de que a paz atrapalha – embora pareça altamente provável que a fórmula mais forte para a reeleição é fazer as reformas propostas, mesmo que sejam modestas e obtidas através de concessões políticas, e manter a economia razoavelmente nos trilhos. Só isso.
A oposição, tanto no mundo político em si como entre os que simplesmente não toleram o governo Bolsonaro, não tem programa, nem alternativas ao que o governo está fazendo, nem munição para ferir de verdade o inimigo. Talvez, não tenha nem um candidato.
Sua única opção é manter um clima de instabilidade, insegurança e conflito o tempo todo. O governo, em vez de desarmar os adversários trabalhando para baixar a tensão, parece francamente empenhado em colaborar com eles.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.
