João Vicente de Castro ganhou projeção nacional no canal Porta dos Fundos. De lá para cá, entrou no elenco de novelas e, atualmente, vive o personagem mais complexo da carreira: o diretor de cinema Alain, protagonista de Espelho da Vida. Em entrevista ao Metrópoles, o ator fala sobre os desafios na dramaturgia, a rotina alimentar e a parceria com o diretor Pedro Vasconcelos.
Confira o papo:
Como seu personagem, o Alain, se insere em Espelho da Vida?
É a história do Alain, um diretor que acaba de fazer um filme premiado e vive sua vida na mais perfeita paz. Aí, ele recebe uma ligação avisando da doença terminal do avô e precisa se despedir. Alain não deseja voltar a Rosa Branca e ninguém entende isso. Então, Cris começa a sentir uma conexão com a cidade, algo de vidas passadas. A partir daí, meu personagem quer ir embora e ela pede para ficar. No meio disso tudo, o avô pede ao neto um filme e a história vai se desenvolvendo.
O Alain é um cara bacana, bonzinho?
Bacana ele é, mas não bonzinho. A gente tem caráter, nossa ética, mas às vezes há coisas que nos confrontam e nos tiram do sério. O Alain é uma ótima pessoa, um cara de caráter, amoroso e afetuoso. Mas, quando se depara com seu passado, coloca os pés pelas mãos e passa a viver uma grande luta para se manter no controle. Muitas vezes ele se perde…
Ele vive vários conflitos pessoais então?
Como nós, o Alain não tem um lado só. Eu acho que o conceito de mocinho e vilão cada vez mais vem se diluindo. Acho que há mocinhas com atitudes de vilã. Há filmes de heróis em que o objetivo dos algozes é destruir o mundo. Para quê? Vai morar onde depois? Hoje, tudo ganha mais contornos de humanidade.
Interpretar um diretor de cinema é tranquilo, já que você conhece o meio?
É um universo que eu conheço, mas tudo está sendo um desafio. É o primeiro protagonista, um personagem muito difícil de fazer. A coerência dele, as dificuldades, os maneirismos, tudo foi muito pensado e construído. Tenho o Pedro Vasconcelos (diretor), que está do meu lado 24 horas por dia, e a gente está trabalhando muito nisso. A gente pensa em cada passo. Realmente, trata-se de um personagem cheio de pequenas variações.
Você acredita em vidas passadas?
Eu acho muito pouco só esta vida. Estava conversando com meu padrasto, um senhor de 80 anos, e ele estava falando que essa ideia de finitude não é muito interessante. Ele falou: “Eu estou tentando me convencer de que existe outro lugar, que vou encontrar meus amigos”.
Como vai ser a relação entre o Alain e a Isabel?
A Isabel é uma presença muito desagradável para o Alain, e ela se faz muito presente. Ela o quer de volta e dominá-lo. Ele a despreza, a odeia. A Isabel mexe com o Alain e sabe disso.
Ele alimenta um resquício dessa paixão do passado?
Não a alimenta, mas sofre com ela. O Alain queria apagar a Isabel da cabeça. Quer distância dela. Ele nem queria voltar a Rosa Branca para se despedir do avô, tamanho é o medo que tem dessa mulher.
Viver um protagonista te assusta?
Eu fico em pânico o dia inteiro. É viver no limiar da euforia e da depressão, mas eu só gosto de viver assim. Com risco, dificuldade, ter que fazer e aprender. Grande parte do que me faz escolher um trabalho é a história das pessoas em volta. Eu estou muito bem cercado e vamos conseguir chegar a um resultado muito honesto.
Você tem investido nos exercícios físicos?
Eu sempre fui do esporte, mas agora dei uma intensificada. Só bebo duas vezes por semana, cortei carboidratos e só como verduras. Estou tendo acompanhamento médico e não quis tomar remédio. Treino bastante e faço boxe há muitos anos. Meu segredo é chegar para a nutricionista e perguntar: “O que eu posso comer até morrer?”. Salada e brócolis. Então, de madrugada eu acordo com fome e como um balde de salada. Eu tenho 60 potes de gelatina zero na minha geladeira, que eu vou comendo. A gente tem que escolher nossas batalhas.
O que você trouxe de Rock Story para Espelho da Vida?
A TV Globo faz conteúdo como poucas empresas do mundo. Os profissionais que trabalham aqui são muito bons. Então, é não entrar na viagem glamorosa da profissão. A gente tem de manter os pés no chão e fazer um bom trabalho. Rocky Story tinha um elenco muito bom. É igual em Espelho da Vida. Vivemos um clima muito familiar.
Como você divide o tempo entre a novela, o Papo de Segunda (GNT) e o Porta dos Fundos?
Eu não durmo. Foi a escolha que eu fiz. Novela é uma coisa que dá muito trabalho. Eu gravo, tenho que estudar o texto e ainda preciso malhar.