“Sully – O Herói do Rio Hudson” engrossa a lista dos filmes traduzidos de maneira inadequada no Brasil. Tom Hanks, o rosto do “bom americano”, interpreta o piloto que conseguiu pousar um avião comercial no rio Hudson, em Nova York, após a falha dos dois motores. Um grande feito. Ainda assim, o longa recusa tratá-lo como um herói.
Em apenas 96 minutos, o diretor Clint Eastwood constrói um de seus filmes recentes mais precisos. Com sobriedade que costuma faltar a tramas baseadas em fatos, o veterano cineasta reconstitui o voo, a ousada decisão tomada e toda a severa investigação iniciada após o incidente.
Sully logo ganhou dimensão de super-herói na mídia. Mas um conselho responsável por cuidar da segurança nos transportes decidiu apurar a fundo o que levou um experiente piloto a pousar um avião com 155 pessoas num rio gelado.
Trabalho no lugar de heroísmo
Durante a investigação, Sully vê-se preso em Nova York para colaborar com o processo. Faz caminhadas noturnas ao lado do copiloto Jeff Skiles (Aaron Eckhart) e conversa com a esposa Lorraine (Laura Linney) pelo telefone. Às vezes, imagina o que poderia ter acontecido: o avião destroçando prédios no coração da metrópole.
Aqui e ali, o filme reforça a importância dos outros envolvidos na ação: a Guarda Costeira, os bombeiros, os paramédicos, a tripulação. Se houve heroísmo, foi um ato coletivo, a dezenas de mãos. Se houve milagre, foi o da competência humana.
“Sully” é o tipo de perfil emocionalmente contido, mas poderoso que Eastwood sabe fazer como poucos. Foi assim com Nelson Mandela em “Invictus” (2009), o gênio do jazz Charlie Parker em “Bird” (1988) e os lados distintos da Segunda Guerra no díptico “Cartas de Iwo Jima” (2006) e “A Conquista da Honra” (2006). Um raro filme sobre o trabalho.
Avaliação: Ótimo
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