Após um ano de muitos desafios para a indústria cinematográfica, o mundo conheceu neste domingo (25/4) os vencedores do Oscar, em uma das cerimônias mais democráticas e representativas da história da Academia. Nomadland levou o grande prêmio, de Melhor Filme, e consagrou Chlóe Zhao como Melhor Diretora e a protagonista, Frances McDormand, que também assina a produção, como Melhor Atriz.
Poucas vezes na história da premiação, a vitória de um filme na categoria principal era tão certa. Desde sua estreia no Festival de Veneza, em setembro do ano passado, quando conquistou o Leão de Ouro, Nomadland foi reconhecido nas premiações que normalmente servem de termômetro para o Oscar.
Nascida em Pequim, Chlóe se tornou, nesta noite, a primeira mulher não branca a receber o prêmio de Melhor Diretor. “Quando eu era criança eu e minha irmã costumávamos fazer um jogo de memória com poemas e textos chineses. (…) Lembro de uma frase que era assim: ‘As pessoas, ao nascer, são boas’. E essas palavras tinham muito impacto quando eu era criança – e continuam tendo hoje. Eu sempre encontrei pessoas boas no mundo. O prêmio é pra essas pessoas que tentam se manter boas. Vocês me inspiram”, disse, em seu discurso.
Frances McDormand acumula três Oscar na carreira. Em um breve discurso, ela afirmou: “Eu não tenho palavras, a minha voz está na minha espada. Sabemos que a espada é nosso trabalho, e eu gosto de trabalhar. Obrigada por saber disso e obrigada por isso aqui”.
Destaques da noite
A estatueta de Melhor Roteiro Original, que deu início à cerimônia, foi arrebatada por Emerald Fennel, pelo longa Bela Vingança. A última mulher a vencer como roteirista foi Diablo Cody, por Juno, em 2008.
O Oscar de Roteiro Adaptado, que sagrou o filme Meu Pai como vencedor, foi a primeira zebra da noite. Chloé Zhao era apontada como favorita, mas quem recebeu a estatueta foi Florian Zeller, que escreveu a produção com Christopher Hampton. Em seu discurso, ele agradeceu muito a Anthony Hopkins e disse que pensou nele ao trabalhar no roteiro. Hopkins também ganhou o prêmio de Melhor Ator, pela performance no longa.
Já o prêmio de Melhor Filme Internacional foi para Druk – Mais uma rodada (Dinamarca), que era o favorito. Ao receber a estatueta, o diretor Thomas Vinterberg se emocionou ao contar que sua filha de 19 anos, que deveria estar no elenco, morreu dias antes da filmagem. “Nós acabamos fazendo esse filme para ela. É um milagre que acabou de acontecer e você faz parte. Talvez você esteja mexendo os pauzinhos em algum lugar. Mas este prêmio é para você”, disse.
Ao ganhar o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, Daniel Kaluuya realizou um feito difícil de ser igualado. Antes, ele recebeu estatuetas no Globo de Ouro, Critic’s Choice, SAG e Bafta.
Em uma cerimônia de discursos marcantes sobre representatividade, Travon Free recebeu o Oscar de Curta de Ficção – por Dois Estranhos, inspirado na morte de George Floyd –, e também se emocionou. “A polícia mata sempre três pessoas. Essas pessoas, em sua maioria, são pessoas negras. A pior coisa que uma pessoa pode ser é indiferente à dor dos outros. Peço a vocês que não sejam indiferentes à nossa dor”, disse Free.
Confira a lista completa de concorrentes e vencedores:
Melhor Filme
Meu pai
Minari
O Som do Silêncio
Nomadland – VENCEDOR
Mank
Bela Vingança
Os 7 de Chicago
Judas e o Messias Negro
Melhor Direção
Thomas Vinterberg (Druk — Mais uma rodada)
David Fincher (Mank)
Lee Isaac Chung (Minari)
Chloé Zhao (Nomadland) – VENCEDOR
Emerald Fennell (Bela vingança)
Melhor Atriz
Viola Davis (A voz suprema do blues)
Andra Day (Estados Unidos Vs. Billie Holiday)
Vanessa Kirby (Pieces of a Woman)
Frances McDormand (Nomadland) – VENCEDOR
Carey Mulligan (Bela vingança)
Melhor Ator
Riz Ahmed (O som do silêncio)
Chadwick Boseman (A voz suprema do blues)
Anthony Hopkins (Meu pai) – VENCEDOR
Gary Oldman (Mank)
Steve Yeun (Minari)
Melhor Roteiro Adaptado
Borat: Fita de cinema seguinte
Meu pai (Christopher Hampton e Florian Zeller) – VENCEDOR
Nomadland
Uma noite em Miami
O tigre branco
Melhor Roteiro Original
Judas e o Messias negro
Minari
Bela vingança (Emerald Fennel) – VENCEDOR
O som do silêncio
Os 7 de Chicago
Atriz Coadjuvante
Maria Bakalova (Borat: Fita de cinema seguinte)
Glenn Close (Era uma vez um sonho)
Olivia Colman (Meu pai)
Amanda Seyfried (Mank)
Youn Yuh-jung (Minari) – VENCEDOR
Ator Coadjuvante
Sacha Baron Cohen (Os 7 de Chicago)
Daniel Kaluuya (Judas e o Messias negro) – VENCEDOR
Leslie Odom Jr. (Uma noite em Miami)
Paul Raci (O som do silêncio)
LaKeith Stanfield (Judas e o messias negro)
Design de Produção
Meu pai
A voz suprema do blues
Mank – VENCEDOR
Relatos do mundo
Tenet
Fotografia
Judas e o messias negro
Mank – VENCEDOR
Relatos do mundo
Nomadland
Os 7 de Chicago
Filme Estrangeiro
Druk — Mais uma rodada (Dinamarca) – VENCEDOR
Better days (Hong Kong)
Collective (Romênia)
The man who sold his skin (Tunísia)
Quo Vadis, Aida? (Bósnia e Herzegovina)
Longa De Animação
Dois irmãos
A caminho da Lua
Shaun, o carneiro, o Filme: A fazenda contra-ataca
Soul – VENCEDOR
Wolfwalkers
Indicados a Figurino
Emma
Mank
A Voz Suprema do Blues – VENCEDOR
Mulan
Pinóquio
Edição/Mixagem De Som
Greyhound
Mank
Relatos do Mundo
Soul
O Som do Silêncio – VENCEDOR
Curta de Animação
Burrow
Genius Loci
If Anything Happens I love you – VENCEDOR
Opera
Yes-People
Indicados a Curta-metragem
Feeling through
The letter room
The present
Two Distant Strangers – VENCEDOR
White eye
Trilha Sonora
Destacamento Blood
Mank
Minari
Relatos do mundo
Soul – VENCEDOR
Indicados a Efeitos Visuais
Love and monsters
O céu da meia-noite
Mulan
Tenet – VENCEDOR
O grande Ivan
Melhor Edição
Meu pai
Nomadland
Bela vingança
Os 7 de Chicago
O Som do Silêncio – VENCEDOR
Cabelo e Maquiagem
Emma
Era Uma Vez um Sonho
A Voz Suprema do Blues – VENCEDOR
Mank
Pinóquio
Canção Original
Fight for you (Judas e o Messias Negro) – VENCEDOR
Hear my voice (Os 7 de Chicago)
Husavik (Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars)
Io Sì (Rosa e Momo)
Speak now (Uma noite em Miami)
Longa Documentário
Collective
Crip Camp
The Mole Agent
My Octopus Teacher – VENCEDOR
Time
Curta Documentário
Colette – VENCEDOR
A concerto is a conversation
Do not split
Hunger Ward
A love song for Latasha
Mudanças na cerimônia
A cerimônia deste domingo, atrasada em dois meses, ocorreu no elegante Union Station, no centro de Los Angeles (EUA). Construído nos anos 1930, e reformado recentemente, o local mistura arquiteturas típicas da região, com chão de ladrilhos espanhóis e lustres art deco.
O tapete vermelho foi reduzido: foram convocados apenas os indicados, seus convidados e alguns apresentadores. Também havia pelo menos 10 estações via satélite em determinadas cidades – como Londres (Inglaterra), Paris (França) e Nova York (EUA) –, onde estavam alguns dos selecionados pela Academia. Só quem compareceu pessoalmente pode fazer o discurso.
Outra mudança significativa ocorreu na apresentação dos artistas indicados a Melhor Canção Original. As performances foram gravadas e a exibição foi antes da cerimônia, em um evento pré-Oscar.
Indicações
Com os cinemas fechados por conta da pandemia de Covid-19, a Netflix foi o grande destaque entre os estúdios, com 35 indicações, 11 a mais que em 2020. A concorrência mais direta nos streamings, o Amazon Studios, ficou com 12 indicações, à frente de estúdios tradicionais, como Warner (8 indicações), Disney (8), Focus Features (7), Sony (6), A24 (6) e Searchlight (6). Entre as outras plataformas, a Apple teve duas indicações, e o Hulu teve uma.
Outro efeito da pandemia sobre a premiação foi que, com a ausência de produções maiores, de grandes estúdios, as mais independentes ganharam espaço, tornando a lista de indicados uma das mais diversas da história.
Na categoria de melhor filme, entre os oito indicados, três têm protagonistas não brancos (Judas e o Messias Negro, Minari e O Som do Silêncio) e dois são protagonizados por mulheres (Nomadland e Bela Vingança).
De forma inédita, duas mulheres foram indicadas para Melhor Direção no mesmo ano – Chloé Zhao (Nomadland) e Emerald Fennell (Bela Vingança). Zhao também foi a primeira mulher não branca a ser indicada na categoria, em 93 anos de premiação, e a primeira mulher a receber quatro indicações no mesmo ano – por direção, montagem, roteiro adaptado e melhor filme. Já Fennel é a primeira mulher estreante a entrar na lista de direção.
