Ameaçadas pela fome durante a pandemia do novo coronavírus, 27.664 famílias carentes do Distrito Federal pediram o socorro do Cartão Prato Cheio, mas ainda não receberam a ajuda. Aguardam na fila pelo benefício do Executivo distrital.
Os cadastrados no Prato Cheio recebem mensalmente R$ 250 para a compra de alimentos. O Governo do Distrito Federal (GDF) lançou o programa em maio de 2020, como medida emergencial voltada a famílias carentes cuja situação de vulnerabilidade alimentar foi agravada pela crise econômica decorrente da pandemia.
Os pagamentos começaram de ser feitos em 22 de junho. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), atualmente 34.936 famílias são contempladas. Algumas receberam somente o primeiro pagamento; outras, estão no quinto repasse.
Aflição diária
De acordo com o presidente do Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural do GDF (Sindsasc), Clayton Avelar, diariamente, servidores testemunham a aflição das famílias na fila de inclusão no programa.
“Vemos com preocupação o crescimento da demanda reprimida. São pessoas carentes, empregadas, subempregadas e desempregadas”, alertou.
Na avaliação de Avelar, a situação poderá sair do controle quando os 27 centros de Referência em Assistência Social (Cras) retomarem 100% do atendimento presencial.
“Estamos com déficit de pessoal e somos uma categoria extremamente envelhecida. Não teremos condições de atender tantas pessoas, explicou.
Medo da fome
O Metrópoles conversou com uma mãe de família que aguarda na fila de espera do programa. Temendo ficar sem o benefício, a mulher pediu para não ter o nome revelado pela reportagem.
Moradora de São Sebastião, ela é responsável pela criação de dois filhos, um menino de 10 anos e um jovem de 18. Desempregada há dois anos, sustenta a casa fazendo bicos como manicure.
“Fiz a inscrição e recebi a primeira parcela. Depois não me pagaram mais. Disseram que poderia me inscrever novamente. Pedi, e há três meses estou esperando. Não dão mais posição para a gente”, lamenta a mãe de família.
“Algumas pessoas recebem e outras não. Quando você fala que vai dar o beneficio para alguém, tem que ser imediato”, desabafou.
Graças aos bicos, a família ainda não passou fome. Mas o receio de faltar comida cresce a cada dia. “Medo a gente tem porque não temos segurança alguma”, completou a candidata ao benefício do GDF.
Carestia
Para Clayton Avelar, o Prato Cheio precisa ser fortalecido e o benefício, reajustado conforme a inflação. “Vimos os aumentos dos alimentos. Da forma como está, o programa não protege a população da carestia”, explicou.
Pelo diagnóstico do servidor, diante da crise atual, a população carente ainda depende dos demais auxílios emergenciais pagos pelos governos federal e local.
Na Câmara Legislativa (CLDF), o gabinete da deputada distrital Arlete Sampaio (PT) recebeu diversas famílias que lutam pela inclusão no Prato Cheio. São mães com crianças recém-nascidas e trabalhadores do campo.
Na avaliação da parlamentar, a fila é um problema gravíssimo. A distrital encaminhou requerimento a Sedes cobrando explicações sobre o benefício e soluções para a fila de espera.
Outro lado
Pelas contas da Sedes, antes da pandemia, cerca de 8 mil cestas de alimentos eram distribuídas. Após a substituição emergencial pelo Cartão Prato Cheio, houve um aumento de mais de 350% na concessão do benefício.
Na leitura da pasta, a fila foi formada pela alta procura pelo auxílio, motivada pela situação econômica agravada pela pandemia da Covid-19. Segundo a pasta, o GDF não tinha previsão orçamentária para esse aumento.
“As áreas econômica e social do governo estão trabalhando para atender o maior número de famílias possível”, argumentou a Sedes. A folha de pagamento do último mês do cartão ficou em R$ 7.193.750,00, conforme a pasta.
Para inclusão de novos beneficiários, o GDF irá priorizar as famílias monoparentais chefiadas por mulheres e com crianças com idades entre 0 e 6 anos; além de famílias com pessoas com deficiência e com idosos, bem como pessoas em situação de rua.
“A Secretaria de Desenvolvimento Social esclarece que o programa Cartão Prato Cheio não é um benefício de transferência de renda. O auxílio tem caráter emergencial”, reforçou a pasta.
Segundo a Sedes, o GDF mantém em marcha outros programas emergenciais para apoiar a população durante a pandemia.
Mais informações estão no site do programa. No entanto, na noite dessa quarta-feira (21/10), a página informava que o período para novos cadastros estava encerrado.