Parentes e amigos de Izabel Aparecida Guimarães de Sousa se reuniram em frente ao Fórum de Ceilândia para acompanhar o julgamento de Paulo Roberto Moreira Soares, nesta quinta-feira (12/12), além de protestar e pedir por justiça. A vendedora foi morta com um tiro disparado pelo ex-companheiro, em 4 de fevereiro de 2023. O crime aconteceu na frente da filha do casal.
A Promotoria de Justiça do Tribunal do Júri de Ceilândia apontou três qualificadoras para o homicídio: motivo fútil, pois teria sido cometido devido ao suposto bloqueio de contas bancárias do acusado por Izabel; uso de recurso que dificultou a defesa da vítima, devido ao disparo dentro de casa, enquanto ela estava desarmada e próxima ao réu; e feminicídio, pelo fato de o assassinado ter decorrido de um contexto de violência contra a mulher.
Também consta da denúncia um pedido de aumento de pena pelo fato de uma criança de 10 anos, a filha do casal, ter testemunhado o homicídio.
Veja imagens do protesto:
Por volta das 8h30, parentes de Izabel já estavam reunidos em frente ao fórum. Eles vestiam camisas com foto da vendedora, que tinha 36 anos, e mostravam cartazes com palavras escritas em vermelho. Os conhecidos da vítima cobraram a determinação do tempo de pena máximo ao feminicida: 40 anos de prisão.
O julgamento começou às 9h30. “Apesar de isso ter demorado quase dois anos, a família aguarda que a justiça seja feita. A expectativa é de que ele pegue a pena máxima, porque não teve piedade nem da própria filha. Então, também não teremos piedade dele. A dor da perda não vamos curar nunca, mas a condenação dele vai ser um bálsamo para aliviar o sofrimento”, disse Olívia Guimarães, irmã da vítima.
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) informou que serão ouvidas, entre testemunhas do Ministério Público e da defesa, 10 pessoas. No entanto, as identidades delas não foram detalhadas. Paulo Roberto segue preso preventivamente pelo feminicídio. Os advogados do réu alegam que o disparo de arma que matou Izabel foi acidental.
Justiça por todas as outras vítimas
Como forma de não deixar o caso de Izabel ser esquecido, a família da vítima criou o perfil no Instagram @justicaporizabel, para deixar eternizada as memórias da vendedora e atualizar o perfil com informações sobre o andamento do processo judicial.
A bombeira militar, enfermeira e professora, Érika Tayná de Souza Nascimento, sobrinha de Izabel, disse que os parentes estão com apreensivos pelo julgamento. “A cada dia que passava, era como se atirassem de novo, na gente. Essa justiça não é só pela minha tia, mas por todas as outras mulheres vítimas. A pena não vai trazer ela de volta, mas é justo que ele pague o máximo possível que a lei permitir”, cobrou.
Érika Tayná acrescentou que a filha de Izabel é cuidada pela família, que busca todas as formas de fazer a criança lidar com o trauma. “Ninguém ensinou para a gente como se cria um órfão desse tipo de crime, mas tentamos o melhor que podemos para que essa nova configuração familiar seja a melhor possível, porque o feminicida acabou com a vida dela”, completou a sobrinha.
O caso
O casal ficou junto por cerca de 10 anos, mas estava separado há dois meses. Parentes da vítima afirmam que Paulo Roberto não aceitava o fim da relação e que tinha comportamentos agressivos. O ciclo de violência terminou com a morte da vendedora.
Izabel foi morta com um tiro na testa pelo ex-companheiro, na residência dela, no P Sul, em Ceilândia.
Izabel estava no quarto, com a filha de 8 anos, quando Paulo Roberto chegou alterado em casa. Testemunhas relataram à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) que ouviram a vítima gritar: “Para, Roberto. Na frente da menina?”.
O assassino ordenou que a vítima desligasse o celular. Em seguida, as testemunhas ouviram barulhos de tiro.
A vendedora foi baleada na frente da filha. Após atirar na cabeça da companheira, Paulo Roberto disse à criança: “Sua mãe já era”. Logo depois, deixou o imóvel, ainda armado, em um Ford Fusion preto.
Paulo chegou a mandar um áudio em grupo de amigos no WhatsApp confessando o feminicídio. Ele se apresentou à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) 2 de Ceilândia, acompanhado de um advogado, um dia depois do crime.