Aos 4 anos, Alex Sandro Pereira já trava uma batalha pela vida. Morador da Estrutural, o garoto está internado em coma induzido no Hospital da Criança de Brasília (HCB) após ter 99% do corpo queimado em um incêndio que atingiu a casa da madrinha, em 18 de dezembro.
O episódio que debilitou o estado de saúde do menino integra preocupante estatística do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF).
Segundo levantamento da corporação obtido pelo Metrópoles, a capital teve, em média, cinco incêndios em imóveis por dia neste ano. O balanço revela que 1.908 casas pegaram fogo até a sexta-feira (27/12/2019).
Apesar da média elevada, o número de ocorrências do tipo não deve superar o registrado no ano passado, quando os bombeiros realizaram 2.158 atendimentos. Se somados, os montantes dos últimos dois anos mostram que mais de 4 mil residências foram atingidas pelo fogo.
Um dos episódios mais recentes ocorreu na noite dessa sexta-feira (27/12/2019). Uma mulher e crianças tiveram que ser socorridas por vizinhos após a casa em que estavam pegar fogo. O imóvel está localizado no Conjunto 16 da Quadra 510 do Recanto das Emas. A moradora de 45 anos teve princípio de intoxicação por inalação de fumaça e recebeu atendimento dos socorristas. Ela não precisou ser levada ao hospital.
Outro registro foi feito na noite de Natal, na quarta-feira (25/12/2019). Um vídeo que circula pelas redes sociais mostra chamas envolvendo a varanda de um apartamento na Quadra 300 do Sudoeste.
O fogo atingiu, ainda, a rede de tensão elétrica e um botijão de gás. Apesar do susto, não houve feridos no incidente. No local, funcionava um espaço gourmet.
Veja:
Outra imagem impressionante que assustou brasilienses foi gravada em setembro deste ano. Na ocasião, chamas destruíram um apartamento do terceiro andar do Bloco G da 410 Norte. O fogo foi considerado de média proporção e consumiu dois quartos e uma sala. Ninguém se feriu.
Confira:
Relembre outros incêndios em edificações neste 2019:
- Em setembro, um homem morreu carbonizado dentro de casa, em Ceilândia. Ele não conseguiu deixar o imóvel, pois a entrada da residência ficou bloqueada por conta dos escombros. Na ocasião, os bombeiros resgataram 11 cachorros que estavam na parte de trás do terreno;
- Velas acesas esquecidas em um apartamento causaram a morte de um cachorro de estimação na QE 40 do Guará II em fevereiro. Os bombeiros chegaram a ser acionados e conseguiram controlar as chamas, evitando que o incêndio se alastrasse para unidades vizinhas. O animal, contudo, não resistiu;
- Uma mulher de 50 anos morreu carbonizada em janeiro após a casa onde morava, em Santa Maria, pegar fogo;
- Já em setembro, moradores de Águas Claras se assustaram com fortes chamas que consumiram um loft no hotel S4;
- No mesmo mês, três gatos morreram em incêndio de quitinete na EQRSW 2/3 do Sudoeste. O combate às chamas demandou mil litros d’água;
- Ainda em setembro, no Guará, labaredas destruíram uma casa no Conjunto J da QE 34. Segundo moradores da região, o fogo começou com uma vela. De família religiosa, a dona da casa teria acendido o objeto na intenção de fazer orações diárias.
Principais causas
Para o major Freitas, da Diretoria de Investigação de Incêndio do CBMDF, os principais causadores de incêndios a residências no Distrito Federal são: o uso inadequado de velas e curtos-circuitos. O militar afirma que ocorrências envolvendo falhas em equipamentos eletrodomésticos também “são causas relevantes”.
“É preciso evitar o uso de velas sempre, mesmo na interrupção do fornecimento de energia elétrica. Nunca deixar velas acesas sem acompanhamento. Além disso, é bom que não se permita o acúmulo e o armazenamento de materiais de forma inadequada. Isso inclui materiais inflamáveis, como gasolina e outros combustíveis”, adverte.
Outro fator importante apontado pelo oficial está na qualidade dos disjuntores e quadros de energia. “A queda ou desligamento recorrente de disjuntores configura situação de risco e sempre merece atenção e revisão na rede elétrica. A instalação de DRs e DPS favorecem a prevenção de acidentes de diversas ordens, incluindo o incêndio”, destacou. Os dispositivos têm função de desarmar o circuito em caso de uma fuga de corrente por curto-circuito.
“É importante que se contrate profissionais habilitados em instalações elétricas, por exemplo. Estas devem ser dimensionadas por um engenheiro e executadas por um técnico capacitado. Não pode haver improvisos em instalações elétricas. Os maiores cuidados devem ser com instalações elétricas, evitando uso de multiplicadores de tomadas, instalações precárias ou má executadas, emendas malfeitas, fiação elétrica exposta ou em contato com material metálico”, explicou o bombeiro.
Como prevenir
Freitas afirma que o despreparo das vítimas para lidar com incêndios dificulta o combate das chamas. “Há uma falta de preparo da população para responder a um incêndio, especialmente procedimentos simples, como acionar imediatamente o 193”, frisou.
Segundo o major, a falta de treinamentos de evacuação e simulados de incêndios em prédios também configura um problema. “Muitos [moradores] não sabem usar os extintores, não sabem usar adequadamente saídas de emergência e não denunciam situações irregulares. Infelizmente, os trotes também é outro fator negativo recorrente”, explicou.
Por isso, o militar instrui a população como agir em episódios do tipo. “O primeiro passo é acionar o 193 ou o quartel da sua região. É importante ter uma rota de fuga pré-estabelecida, mesmo em sua residência; tentar fazer um primeiro combate e controlar o fogo com uso de extintores. Se não for possível, fugir sem levar nada. Nunca volte para buscar bens pessoais”, acrescenta.
Aos brasilienses que têm costume de viajar no final do ano e deixar a casa vazia, Freitas orienta desligar a rede elétrica, desconectar tomadas de eletrodomésticos e fechar o registro de gás.