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Novas linguagens em ambientes digitais extrapolam estrutura linear da escola

Nessa mudança, o professor passa a editar, criar roteiros, assessorar os alunos e colocar o material curricular em diferentes contextos

atualizado 01/02/2021 11:00

A escola vem sofrendo grandes transformações nos seus mais diferentes campos de existência. Pedagógico, administrativo, político, institucional. A maior parte das escolas intui essa transformação, mas tem dificuldade de transformar ideias em práticas. Outras permanecem com seu jeito conservador por conta do sucesso do passado, dos professores e pais. No entanto, o mundo mudou muito, as relações sociais se transformaram. Tecnologia, modos de produção e afetivos promovem aos poucos um novo ser humano.

As escolas mais antenadas, empresários, intelectuais e parte da sociedade já enxergam um novo mundo e nele a educação é o principal agente. Essas escolas vêm transformando os espaços educativos, trazendo o mundo para a classe, implodindo a sala de aula e misturando diferentes instituições para a construção dos conhecimentos. Nesse movimento transforma gestores, professores, alunos, pais, funcionários e toda a comunidade que transita perto e longe da escola como espaço físico.

Um dos principais vetores de transformação é a linguagem. A escola contemporânea aos poucos passa a ser geradora de conteúdo e não só transmissora. Passa a ser produtora de sons, fotos, vídeos, produções teatrais, games e as mais diferentes representações significativas para a comunidade.

Nas escolas mais vanguardistas cada aula pode produzir novas mídias para a apresentação dos conteúdos ou performances. Desenvolver projetos que abarquem esse ferramental, além de ser agradável (apesar de trabalhoso…), traz os mais diversos desafios (operacionais, intelectuais, emocionais, criativos…). Muitos desses trabalhos coletivos geram conhecimento para toda a comunidade.

Mesclando pesquisa, multimídia, dramatizações, edições, podem gerar um conhecimento potente que extrapola em muito a estrutura linear da escola tradicional. As investigações sobre os elementos do currículo continuam sendo fundamentais, mas, meio e mensagem, parodiando Marshal McLuhan, se misturam.

Projetos de 30 segundos a 15 minutos, produzindo análises e sínteses, discussões dialéticas ou tempestades de ideias, podem ser elaborados em qualquer espaço. Instalações permanentes ou micro happenings podem ser imaginados, gerando uma infinidade de conhecimento para o aprendiz e para a comunidade. A maioria desses projetos deixa registros digitais ou analógicos que podem ser usados por estudantes nos anos futuros, servindo de inspiração e estimulando a imaginação.

 

Uma mudança radical vai ocorrendo: o professor passa a ser curador, designer, editor, fotógrafo, cenógrafo, roteirista… ou um movimentador dessas ações. Faz perguntas, assessora os alunos, coloca o material curricular em diferentes contextos, cria rigor na análise do processo e do produto, assegurando qualidade.

O mais importante é criar espaço de movimentação criativa, de resolução de problemas e de muita alegria. Mas essas funções também são dos alunos e toda a comunidade que se engaja.

O mercado de trabalho ou as ações cívicas cada vez mais pedem cidadãos que sejam capazes de resolver questões de forma eficiente por meio de diferentes caminhos. “Pra” encerrar nosso bate-papo cito a MTV brasileira, que começou no Brasil de maneira caótica, sem grana, mas com muitos jovens querendo tocar seus planos. Apenas com o conceito de VJ (denominação dada às práticas artísticas relacionadas com a performance visual em tempo real) e vontade de aprender conseguiram um projeto multimídia que alavancou muitos talentos (Astrid Fontenelle, Zeca Camargo, Thunderbird, Gastão Moreira, Sabrina Parlatore, Edgard Piccoli, Soninha Francine, Cazé, Marcos Mion, Hermes & Renato, Marcelo Adnet, Dani Calabresa, Tatá Werneck, entre outros), todos começando com o desafio de resolver inúmeros problemas que surgiam cotidianamente em uma estrutura precária, instigante e apaixonante.

Pensando bem, uma escola passa a ser uma produtora que resolve problemas, produz linguagens e conhecimento, talentos e muita alegria de tocar algum plano. Como a MTV, Spotify, IDEO, Linux e muitas novas empresas e ações sociais que vem fugindo da estrutura linear, trazendo diferentes linguagens e influenciando toda sociedade e o processo educativo é o grande condutor desses modelos.


Diretor Acadêmico da Fundação Santillana, instituição espanhola que realiza e apoia iniciativas que contribuem para o desenvolvimento da educação e da cultura