Para além do inusitado encontro de (vários) rivais e do discurso enfático de Alexandre de Moraes em favor das urnas e do processo eleitoral — praticamente um sermão para Jair Bolsonaro, sentado ao seu lado –, a posse do ministro no cargo que lhe dá a estrela de xerife das próximas eleições teve uma série de lances que valem registro — uns mais, outros menos, vale dizer. A coluna traz alguns deles.
Água e óleo. O cerimonial do TSE conseguiu dar um jeito de evitar que Dilma Rousseff e Michel Temer, rompidos, ficassem lado a lado. Entre eles sentaram-se Lula e José Sarney — ironicamente, dois dos poucos personagens da República que teriam poderes e traquejo para, quem sabe um dia, reaproximar a ex-presidente de seu ex-vice.
À vontade. Lula chegou ao plenário do TSE desfilando simpatia. E logo se aproximou de ministros do Supremo Tribunal Federal que aguardavam o início da cerimônia. De máscara, Cármen Lúcia — que foi nomeada pelo petista e depois passou a ser odiada por parte do PT por ter decidido contra ele próprio e contra outros próceres do partido em julgamentos importantes — prontamente se levantou para cumprimentá-lo.
Relação bipolar. Gilmar Mendes, cuja história com Lula tem passagens de amor e de ódio, também cumprimentou o petista com certa graça. O ministro voltou a garantir lugar na lista dos queridos do ex-presidente após liderar a cruzada contra a Operação Lava Jato no Judiciário.
Trio ternura. Dilma Rousseff trocou uns dedos de prosa com as ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber pouco antes do início da solenidade. Rosa chegou ao STF pelas mãos da ex-presidente. De longe, a conversa parecia amena e agradável.
Sem economia. Paulo Guedes, o Posto Ipiranga de Bolsonaro, foi outro que chegou desfilando simpatia e cumprimentou efusivamente vários dos ministros do STF, entre eles Gilmar Mendes e Dias Toffoli. O ministro da Economia também apertou a mão de Lula.
Bolsonaro, Kassio e Mendonça. Na passagem do discurso em que Alexandre de Moraes disse, ao lado de um Jair Bolsonaro inerte, que o Brasil é “a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia, com agilidade, segurança, competência e transparência”, Kassio Marques até aplaudiu o colega, mas de maneira comedida, quase protocolar. André Mendonça foi mais generoso nos aplausos. Ambos, como se sabe, foram nomeados por Bolsonaro para o STF e têm feito questão, cada um a seu modo, de mostrar lealdade ao atual ocupante do Planalto.
Aras vê longe. Ao discursar, o procurador-geral da República, Augusto Aras, fez questão de afagar Ricardo Lewandowski e o ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence, que pouco antes havia sido acarinhado por Lula com um beijo na testa. Aras, que apesar da proximidade com Bolsonaro tem laços antigos com o PT, ainda sonha em se tornar ministro da Suprema Corte, qualquer que seja o vencedor das eleições de outubro. Ele sabe que, caso Lula seja o próximo presidente, Lewandowski e Pertence terão influência na escolha dos possíveis nomes.
Toffoli e Jobim. No coquetel que se seguiu à cerimônia, no imenso salão contíguo ao plenário do TSE, Dias Toffoli levou uma longa conversa com Nelson Jobim, ex-presidente do STF, ex-ministro da Justiça, advogado e sócio do banco BTG. De vez em quando eles eram interrompidos por outros convidados interessados em cumprimentá-los, mas nada que atrapalhasse o papo.
Tropa reunida. Jair Bolsonaro fez questão de chegar à sede do TSE escoltado por um séquito numeroso. Os ministros que haviam confirmado participação na cerimônia seguiram para a Corte junto com o comboio presidencial. Eles chegaram dez minutos antes do horário marcado para o início da solenidade. Além do veículo que levava o presidente, a comitiva tinha nada menos que 17 carros. Bolsonaro e seu entourage entraram e saíram pela garagem do prédio.
Cotoveladas lulistas. A entourage de Lula mantém o velho hábito de maltratar jornalistas. Na saída do plenário do TSE, o petista foi cercado por um batalhão de repórteres interessados, por óbvio, em obter alguma declaração. Não faltaram — por parte dos seguranças e assessores do petista — pisões, empurrões e cotoveladas (assista aqui). O assessor de imprensa de Lula (sim, assessor de imprensa!) era um dos mais empenhados em empurrar. “Não chega assim”, dizia, como se repórteres pudessem se aproximar de outra forma que não perguntando.