Uma locadora de veículos de propriedade de militares bolsonaristas faturou mais de R$ 1,2 milhão em contratos com deputados da base do governo nos últimos quatro anos.
Parlamentares do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, lideram a lista de gastos de verba da cota parlamentar com a firma, cujo endereço é um coworking na região central de Brasília.
A Novacar até já existia, mas começou a fazer sucesso mesmo a partir da chegada do bolsonarismo ao poder, em 2019.
Segundo dados da própria Câmara, entre 2015 a 2019 a empresa havia faturado R$ 116,9 mil em contratos com deputados federais. Após a vitória de Jair Bolsonaro e a chegada ao Congresso de um batalhão de aliados eleitos na esteira dele, em 2018, o faturamento foi multiplicado por dez. A grande maioria dos clientes é formada por parlamentares aliados do presidente.
Pelo aluguel dos veículos, os deputados repassam à firma recursos da cota parlamentar — dinheiro público, claro — a que têm direito para custear despesas do mandato.
Os donos Novacar são dois militares da reserva, Ricardo Roberto Boeira e Antonio Luiz Veneu Jordão (foto em destaque).
Sargento do Exército, Boeira entrou para a reserva em 2019. Atualmente, ele trabalha na Escola Superior de Defesa, vinculada às Forças Armadas. Já Veneu Jordão foi da Marinha, onde alcançou a patente de capitão de fragata. Entrou para a reserva em 2008. Hoje, Jordão é assessor especial da reitoria da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, a UFTM.
Nas redes sociais, os dois sócios da Novacar fazem questão de declarar apoio a Bolsonaro. Jordão já compartilhou foto com o próprio presidente e com várias figuras conhecidas do bolsonarismo.
Clientes conhecidos
A carteira de clientes da empresa tem, ao todo, doze deputados governistas. Entre eles estão nomes destacados da base de apoio de Jair Bolsonaro no Congresso.
O deputado que mais destinou recursos à locadora foi Hélio Lopes, do PL do Rio de Janeiro. Também conhecido como Hélio Negão, o parlamentar é um dos aliados mais próximos do presidente. Desde o primeiro mês do mandato, ele repassou R$ 303 mil à Novacar.
Ainda no partido de Bolsonaro, o PL, a deputada federal Bia Kicis, do Distrito Federal, destinou à firma R$ 171 mil. Também contrataram a Novacar o gaúcho Bibo Nunes (R$ 131 mil) e o goiano Major Vitor Hugo (R$ 44 mil).
Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente, chegou a contratar a locadora dos militares no primeiro mês de seu mandato. Pagou R$ 960. Antes de perder seu mandato, Daniel Silveira, do Rio, repassou R$ 50 mil. Cliente da Novacar desde 2017, ano em que começou a pré-campanha de Bolsonaro, a deputada capixaba Norma Ayub destinou R$ 186 mil de sua verba de gabinete à empresa na atual legislatura.
A campanha eleitoral deste ano também ajudou nas contas da Novacar. Bia Kicis, por exemplo, declarou ter repassado R$ 6 mil à empresa a título de locação de veículos.
“Não estou nessa por esquema”, diz deputado
A coluna procurou os gabinetes dos deputados bolsonaristas que contrataram a Novacar para entender a preferência pela empresa dos militares. Apenas cinco gabinetes responderam.
A assessoria de Bia Kicis disse que a escolha da locadora se deu em decorrência da relação custo/benefício. Vitor Hugo não explicou. Limitou-se a dizer que “todas as informações acerca do contrato estão disponíveis para consulta no site da Câmara dos Deputados”.
Bibo Nunes negou que a escolha tenha sido influenciada pelo fato de os donos da locadora serem militares com ligação com bolsonarismo. “Comigo é diferente. Eu tenho dinheiro, não estou nessa por esquema. Não preciso disso, sou patriota e estou na vida pública pela causa”, respondeu Nunes. Depois, o gabinete dele enviou uma explicação concisa para a contratação: “Pesquisa de mercado e escolha com base no menor preço”.
A assessoria de Norma Ayub disse que a decisão de contratar a Novacar foi da chefe de gabinete da deputada, após uma pesquisa de preços.
Hélio Lopes e Daniel Silveira não responderam às tentativas de contato, assim como os deputados Delegado Marcelo Freitas (União Brasil-MG), Jones Moura (PSD-RJ), Léo Motta (Republicanos-MG) e Gutemberg Rei (MDB-RJ).
Procurados, os donos da Novacar também não se manifestaram.
