Um jovem jogador negro deixa o campo em lágrimas após sofrer insultos racistas. A cena, protagonizada recentemente por Luighi, atleta do Palmeiras, durante uma partida da Libertadores Sub-20 contra o Cerro Porteño, reacende um debate inadiável sobre a banalização insidiosa do racismo e a urgência de ações contundentes para combatê-lo. Durante o jogo, torcedores adversários fizeram gestos racistas em direção a Luighi, ao ponto de cuspi-lo. Na entrevista pós-jogo, ainda com a voz embargada, o jovem questionou a ausência de perguntas sobre o ocorrido:
“Vocês não vão me perguntar sobre o ato de racismo que ocorreu hoje comigo? É sério? Até quando vamos passar por isso?”
Esse caso escancara como, com frequência, o racismo é tratado com indiferença ou minimizado — como se não fosse violência real. Essa normalização silenciosa do racismo é extremamente perigosa: perpetua a discriminação, anestesia a sociedade e desumaniza as vítimas. Vale lembrar que a dignidade humana não se negocia; qualquer ato racista precisa ser imediatamente enfrentado e repudiado.
No futebol o racismo vem se manifestando com frequência alarmante. Casos como o de Luighi estão longe de ser isolados; ao contrário, multiplicam-se e expõem uma ferida aberta no esporte. Tais episódios evidenciam a necessidade de uma postura inflexível de todos os agentes do futebol. É imprescindível que jornalistas, jogadores, árbitros e dirigentes adotem uma política de tolerância zero ao racismo. Se presenciarem um ato racista, ou mesmo tiverem notícia de sua ocorrência, devem interromper imediatamente suas atividades e exigir providências concretas. A omissão — ou pior, a tentativa de minimizar esses atos — é pura conivência; atitudes assim perpetuam o preconceito e a violência.
A pergunta “Onde estão as pessoas que se dizem aliadas?” é tão incômoda quanto necessária. Afinal, ser aliado na luta antirracista vai muito além de declarações públicas ou gestos simbólicos: requer ações tangíveis e a coragem de enfrentar a injustiça de frente. Quem se declara aliado precisa estar disposto a agir quando importa, mesmo que isso signifique enfrentar críticas ou arcar com consequências adversas.
A perpetuação da violência racial contra jovens negros é uma realidade dolorosa que clama por enfrentamento urgente. Enquanto o racismo for tratado pela sociedade e/ou instituições como algo menor ou, pior, tacitamente aceitável, jovens como Luighi continuarão a sofrer humilhações e traumas. É imperativo colocar em prática medidas educativas e punitivas para extirpar o racismo de todas as esferas.
A responsabilidade pelo combate ao racismo não recai sobre as vítimas, tampouco apenas sobre os autores desses atos abjetos. Ela cabe à sociedade como um todo. Cada indivíduo precisa reconhecer o racismo pelo que ele é — uma violência covarde — e agir decididamente para extirpá-lo do convívio social. Só assim forjaremos uma sociedade verdadeiramente justa e igualitária, na qual a dignidade de cada pessoa seja de fato respeitada e preservada.
A normalização do racismo é, por si só, uma violência que não podemos tolerar. Cabe a todos romper a apatia e reagir de imediato diante de qualquer manifestação racista. A luta antirracista exige aliados verdadeiramente comprometidos e ações efetivas, para que jovens negros não continuem a carregar o fardo dessa violência.
Quem é incapaz de se comover com o choro de um jovem negro humilhado em campo já perdeu, no mínimo, a própria alma. Se nem as lágrimas de Luighi bastam para despertar indignação, o que mais será preciso? A normalização do racismo se alimenta precisamente disso: da indiferença, do olhar desviado, do silêncio cúmplice. Nenhum jogador de futebol deveria ter de implorar para que o racismo seja levado a sério. E, no entanto, cá estamos — mais uma vez — diante de um grito de dor que muitos insistem em ignorar. Até quando?