Bolsonaro (PL) e mais sete aliados acusados de cinco crimes pela Procuradoria-Geral da República (PGR) agora são réus e serão julgados pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). No primeiro dia de análise da denúncia sobre suposta tentativa de golpe de Estado, na terça-feira (25/3), o ex-presidente da República compareceu ao STF. À coluna, a consultora de branding e imagem política Deniza Gurgel analisa os elementos simbólicos no paletó usado por ele.
Medalha
Na lapela do paletó de Bolsonaro, havia um pin com a Medalha do Pacificador com Palma, que ele já usou em diversos compromissos públicos. O símbolo é a maior honraria do Exército e condecora militares e civis brasileiros por atos pessoais de abnegação, coragem e bravura com risco de vida, dentro do exercício de suas funções.
O ex-presidente e capitão reformado do Exército recebeu seu exemplar em 2018, poucas semanas após vencer as eleições presidenciais daquele ano, por salvar um soldado de um afogamento em 1978. Na avaliação de Deniza Gurgel, usá-lo para comparecer ao primeiro dia de sessões de análise da denúncia reforça a narrativa de defesa de Bolsonaro.
“Quando um político sabe que estará em evidência e usa elementos pequenos na imagem, neste caso, o tamanho realmente importa, porque é o que fará as pessoas ficarem olhando e tentando entender o que é aquilo”, observa. “A medalha do pacificador em um julgamento em que ele está sendo acusado de ser um golpista, de incitar atos de vandalismo, faz o contraponto com aquilo que ele está sendo acusado.”
A medalha também aparece no traje social usado por ele nessa quarta-feira (26/3), quando acompanhou, do Senado Federal, a análise da denúncia no Supremo. Em outras ocasiões, ele foi visto com pins na mesma parte da lapela, com elementos como a bandeira do Brasil, uma âncora e até o símbolo do Flamengo.
Bordado com cores da bandeira
Assim como no visual do dia da posse e da foto oficial como presidente da República, a lapela esquerda do paletó usado por Bolsonaro na terça-feira (25/3) tinha um pequeno bordado com as cores verde e amarelo, em alusão à bandeira do Brasil. O detalhe, a propósito, aparece com frequência nos trajes formais dele. Para Gurgel, as cores reforçam o posicionamento do político, que defende o “patriotismo”.
As duas cores, vale lembrar, são usadas pelos apoiadores do ex-chefe do Executivo em manifestações. O verde e o amarelo, assim como camisas que remetem à Seleção Brasileira, também foram adotados pelos eleitores bolsonaristas durante as campanhas presidenciais dele, em 2018 e 2022.
Gravata de Moraes
A gravata usada na terça-feira (25/3) pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, também chamou atenção. Na ocasião, ele estava com um modelo da grife francesa Hermès, vendida por US$ 270 (pouco mais de R$ 1.500, em cotação atual). Na estampa, um coelho foge de um dragão cuspindo fogo.
“A gravata quase conta uma história: o coelho chega, o dragão olha, como se estivesse avaliando-o, depois cospe fogo e o coelho sai correndo”, comenta Gurgel. “É natural que as pessoas entendam que foi uma mensagem de como ele está querendo acabar com Bolsonaro. Acaba sendo usada também pela direita para reforçar a ideia da falta de imparcialidade durante o julgamento.”
Na visão da consultora de imagem política, é importante que as autoridades atentem ao impacto que a imagem tem dentro do processo de comunicação. “Cada vez mais, políticos que entendem a importância da imagem usam essa ferramenta para pautar o debate público, as discussões, pautar matérias também pela sua imagem. Isso é estratégico, porque faz as pessoas falarem e aumenta essa disputa entre os apoiadores”, finaliza.
