Duas penitenciárias femininas do estado de São Paulo receberão milhares de calcinhas absorventes da marca Pantys. A doação é uma iniciativa da apresentadora Gabriela Prioli, da CNN Brasil, que fez uma parceria com a etiqueta e o projeto Nós Mulheres para fornecer 1.378 exemplares. “A ação devolverá a parcela de dignidade retirada ilegalmente de parte dessas mulheres”, afirmou a mestre em direito penal em comunicado.
Vem comigo!
Doações
Uma das unidades beneficiadas é a Penitenciária Feminina da Capital, com 480 detentas. A outra é a CPP Franco da Rocha, com 898. A iniciativa de Prioli faz parte do projeto Nós Mulheres, responsável por arrecadar absorventes e produtos de higiene para mulheres presas na capital paulista. A Pastoral Carcerária de Santana (SP) fará a distribuição das peças da marca brasileira nos presídios.
O mix entre conforto e sustentabilidade foi a razão da escolha da Pantys para a doação, já que as calcinhas absorventes da marca são opções mais duráveis. Um exemplar delas pode ser lavado e reutilizado ao longo de dois anos.
Para Juliana Garcia, uma das oito fundadoras do projeto Nós Mulheres, é “fantástico” que as detentas possam lavá-las, sem depender de produtos descartáveis. “Com toda certeza a durabilidade irá representar uma longevidade de dignidade e feminilidade para as mulheres presas”, compartilhou ela em comunicado.




Luta diária por dignidade
Gabriela Prioli explicou que, na maioria das vezes, as mulheres presas dependem de doações, pois a entrega de itens básicos de higiene feminina pelo Estado pode ser insuficiente por causa da superlotação. Essas doações, inclusive, podem ser feitas por familiares delas. Porém, a situação real não é tão simples assim.
“Pesquisas recentes mostram que apenas 20% das mulheres encarceradas recebem visitas. Sem opção, enfrentam a menstruação como dá: jornal, pedaço de tecido, miolo de pão e o mesmo absorvente por vários dias”, compartilhou a apresentadora. Na avaliação dela, o sistema carcerário brasileiro viola sistematicamente direitos humanos fundamentais.
Emily Ewell, sócia-fundadora da Pantys, acrescenta que a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece a pobreza menstrual de mulheres encarceradas como uma situação de saúde pública e direitos humanos, desde 2014. “O sistema carcerário brasileiro trata as mulheres exatamente como trata os homens. A luta diária dessas mulheres é por higiene e dignidade”, afirmou.
Prioli frisou ainda que é importante pedir medidas das autoridades políticas para que os direitos humanos deixem de ser violados, já que ações isoladas como esta não vão, por si só, resolver a falta de atenção com as mulheres encarceradas. “Depende também de empenho e atuação coordenada entre as nossas lideranças políticas e instituições”, continuou.
A apresentadora e mestre em direito penal acrescentou que já fez doações de absorventes descartáveis para o projeto Nós Mulheres. Com a nova ação, conseguiu mais um benefício: “A doação das calcinhas reutilizáveis devolve a dignidade a essas mulheres por dois anos de uma maneira sustentável, o que é maravilhoso.”




Impacto ambiental dos absorventes
A Pantys é a primeira marca de calcinhas absorventes do Brasil. A label observa que, ao longo da vida, uma mulher tem cerca de 450 ciclos menstruais, o que resulta em 180 quilos de absorventes descartáveis, que normalmente vão parar no meio ambiente como se fossem lixo orgânico. Dessa forma, o uso de calcinhas absorventes pode reduzir muito a quantidade de lixo gerada durante todo esse tempo, sem falar na economia financeira que pode ocorrer ao dispensar o uso dos absorventes comuns.
“Quando a Gabriela nos procurou com a proposta de doação, transbordamos de alegria. Afinal, um dos nossos grandes pilares é a sororidade. Há algum tempo, estávamos estudando como contribuir com as mulheres do sistema prisional, e através do projeto Nós Mulheres conseguiremos ajudar, mesmo que uma parcela pequena de detentas”, comentou a sócia-fundadora da Pantys Maria Eduarda Camargo.
No ano passado, a Pantys criou um programa de doações que, desde então, cresceu 234%. O projeto beneficia diversos grupos de mulheres, incluindo refugiadas, indígenas, pessoas em situação de vulnerabilidade social e profissionais de saúde na linha de frente contra o novo coronavírus, sem falar em garotas que chegam a faltar na escola por falta de acesso ao produto.
Colaborou Hebert Madeira