Em 2023, uma tendência que já foi alvo de polêmicas, fake news e até proibições está de volta com força total: as cuecas à mostra. Com origem nas culturas periféricas e marginalizadas, o fenômeno agora se destaca nas passarelas de grandes marcas da moda de luxo em Milão (Itália) e Paris (França), e, consequentemente, em visuais de fashionistas renomados.
Vem entender melhor!

Origem e a revolução dos anos 1990/2000
Para falar sobre as cuecas à mostra, é importante mencionar a influência significativa da cena do rap e do hip-hop nos anos 1990. Foi nessa época que a cultura negra e seus gêneros musicais conquistaram o mundo, trazendo consigo um estilo ousado e revolucionário.
O ato de deixar as roupas de baixo à vista era um gesto de ousadia e desafio às convenções sociais, adotado principalmente por artistas icônicos como Aaliyah, Tupac, Snoop Dog, TLC e Ciara. Marcas como Tommy Hilfiger e Calvin Klein se tornaram as preferidas, com as cuecas em destaque acima das calças como símbolos de autenticidade.



Magreza é a nova trend?
Com a onda de nostalgia voltando aos guarda-roupas e ao street style, não é surpreendente que as cuecas à mostra façam um retorno triunfal no cenário fashion. Quem viralizou novamente a tendência, inclusive, foi a marca de luxo Miu Miu, que, na temporada de primavera/verão 2022, introduziu a peça junto às minissaias, com um mais toque sexy.
A releitura da roupa nos looks tomaram conta das redes sociais e um debate sobre a abordagem da cueca à mostra pela Miu Miu em questão foi aberta: a moda mais um vez voltaria a cultuar a magreza extrema nas criações e nos desfiles? Apesar da referência à tendência, a modernidade atrelada à cueca não fez jus à proposta, que vem de uma cultura excluída incansavelmente dos holofotes.



#MITO: calça caída e cueca à mostra = homossexualidade
Nos Estados Unidos, um mito sobre a tendência afirma que ela teve origem nas prisões do país. Segundo a crença popular, presos supostamente usavam calças caídas com cuecas à mostra como sinal de disponibilidade para terem relações sexuais com outros homens.
A realidade é que o sagging, nome dado ao estilo no uso das peças, surgiu nas prisões, mas não por razões relacionadas à orientação sexual. Os presidiários não têm permissão para usar cintos no local, já que os acessórios podem ser transformados em armas. Além disso, a perda de peso é um fator que contribui para que as calças fiquem mais largas e caiam abaixo da cintura.
No entanto, ainda é importante separar a moda da suposta origem nas prisões. O mito em torno desse estilo não apenas cria equívocos, mas também perpetua estereótipos desnecessários. O sagging, como qualquer outra tendência, tem a evolução ligada à cultura e ao estilo de diferentes grupos ao longo do tempo.



O retorno da tendência não está apenas relacionado à estética, mas também reflete uma mudança significativa na indústria fashion, que está mais disposta — mesmo que empobrecendo e embranquecendo a própria história — a abraçar as referências estéticas das periferias e da cultura negra. Porém, ainda assim, as cuecas à mostra são um símbolo de rebeldia, autenticidade e um lembrete de que a moda pode ser uma ferramenta poderosa para desafiar as normas e os estereótipos estabelecidos.