Conhecida no cenário fashion nacional, a olheira e agente de modelos Filipa Bleck gerou alvoroço na web depois de tecer um comentário gordofóbico em uma foto de Kevin David, diretor criativo da agência Mooc. Por meio do Instagram, o profissional denunciou o ocorrido. Com a repercussão negativa, a Harper’s Bazaar Brasil, veículo no qual Bleck atuava como editora-at-large, posicionou-se anunciando o desligamento de Filipa da publicação.
Tudo começou quando a scout comentou em uma foto publicada por Kevin, na qual ele usava uma sunga, no último domingo (3/1). Ela escreveu: “Tem que cuidar dessa barriguinha, muito novo para ter”.
O publicitário utilizou suas redes sociais para expor, via prints, o teor dos dizeres de Filipa Bleck. “Uma mulher branca de afro, editora de moda na Harper’s Bazaar, gratuitamente, entrou no meu perfil, para, com um discurso de ódio, afirmar o quanto minha barriga é grande”, lamentou. “Pessoas como essa querem reproduzir modelos antigos, de padrão e homogeneidade, quando tantas coisas relevantes têm sido discutidas”, completou. No post, o diretor criativo deixou claro que gostaria de vê-la demitida.
Em entrevista à coluna, ele revelou indignação com o ocorrido. “Eu tinha acabado de acordar e vi o comentário dela. Notei que Filipa tinha começado a me seguir [no Instagram]. Na mesma hora, fui perguntar na DM [mensagem direta] por que ela estava fazendo aquilo e ela começou a rir da situação. Eu ainda tenho muita paciência para dialogar com a branquitude quando ela faz esse tipo de coisa … Eu não deveria ter“, relata.
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E quantas pessoas vão precisar chegar à beira do suicídio pra isso parar?
— Kevin (@kevindavale) January 3, 2021
No mesmo dia em que a editora ofendeu David, a edição brasileira da revista publicou, no perfil do Instagram, uma imagem preta com a seguinte legenda: “A Bazaar Brasil e editora-at-large Filipa Bleck lamentam o comentário leviano feito a Kevin David, pedimos desculpas e nos retratamos publicamente”. No entanto, a postagem não amenizou o caso. Em mais de dois mil comentários, internautas revoltados com o caso criticaram a resposta da Harper’s Bazaar Brasil.
“Eles fizeram aquele pedido de desculpa com três linhas que foi mais desrespeitoso do que se não tivessem postado nada. E foi isso, ela me mandou uma mensagem se desculpando depois, como ‘ai, desculpa, eu não sabia quem era você’. E tipo, se não fosse eu, você faria isso com as outras pessoas? Eu não respondi, simplesmente deixei no esquecimento”, relembra Kevin.
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Mesmo seguro com o próprio corpo, o cofundador da Mooc tornou público o caso pensando em como outras pessoas poderiam receber as críticas. “Desta vez foi comigo, mas poderia não ser”, pontua. “Comentários como o da Filipa desestabilizam a autoestima de muitas pessoas. Também mostra um pouco de como a moda interpreta essa diferença dos corpos”, acrescenta.
“Ela estava reforçando um estereótipo, algo que acontece o tempo inteiro no mundo na moda. São pessoas mais magras do que eu, para entender o quão problemático é isso. A Filipa, na realidade, é resultado de um mercado que ainda existe e de um montão de pessoas que pensam como ela, e que têm a mesma posição”, lamenta Kevin David.
Após ser pressionada por leitores e internautas, a Harper’s Bazaar tomou uma atitude mais efetiva. Na tarde desta segunda-feira (4/1), a empresa informou que a Filipa Bleck foi desligada de suas funções. “Reconhecemos o teor racista de tal comentário, visto que os corpos dos homens negros, além de hipersexualizados, sofrem com imensas pressões estéticas”, compartilhou.
No mesmo texto, a empresa anunciou a contratação da consultora em mudança organizacional Alexandra Oras, para assumir o cargo como sensitivity reader. “Vamos treinar toda nossa equipe sobre vieses inconscientes e nos posicionar para agir e transitar por uma nova era de conscientização respeitosa das belezas plurais.”
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Entre elogios e críticas ao novo comunicado, após o relato de David, profissionais de moda e amigos se identificaram e o procuraram para compartilhar outros depoimentos contra Filipa Bleck. Também em publicações no Instagram, apareceram relatos que apontam gordofobia e racismo, além de assédio moral.
Uma das personalidades que se manifestaram foi a modelo internacional Ellen Milgrau. Nos Stories, a profissional dividiu com seus seguidores experiências que sofreu: “Uma vez, em uma semana de moda, ela quase me derrubou, me deu uma ombrada e continuou andando. Achei que demorou para a máscara dela cair, e ela vir a público fazer o que faz no backstage“.
À coluna, Ellen contou que já viu Filipa garantindo, para outras modelos, que elas nunca iam chegar a lugar algum se não emagrecessem, “embora elas já fossem magérrimas”. Em uma fashion week, ela também viu a editora destratando uma camareira. Ellen contou que Bleck pediu para a profissional sair da frente, dizendo que não era para estar no evento porque era uma “incompetente”.
“Por um momento pensei que por ser gringa [Filipa nasceu em Portugal], poderia ter uma cultura diferente ou não ter acordado bem no dia. Mas, depois das incontáveis vezes que já passei por ela e nada mudou, eu comecei a não me intimidar”, afirma Ellen.
A modelo recebeu outras denúncias em seu perfil no Instagram e compartilhou os casos com a coluna. Confira:
A coluna entrou em contato com Filipa Bleck para obter um posicionamento e esclarecer os fatos. Contudo, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno da editora e scout.
Colaborou Sabrina Pessoa
