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Delegado acusado de travar caso Marielle deu versão diferente em livro

Para PF e PGR, delegado Giniton Lages obstruiu investigação do caso Marielle; em livro próprio, delegado aparece como policial obstinado

atualizado 25/03/2024 9:45

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PF delegado Giniton Lages Reprodução

O delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro Giniton Lages, acusado pela Polícia Federal (PF) e pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de travar a investigação do assassinato de Marielle Franco, deu versão bem diferente em um livro que lançou no ano passado. Lages refere a si mesmo na obra como um policial preocupado e obstinado em solucionar o caso.

Segundo a PF, a presença de Lages na coordenação da investigação “operacionalizou a garantia da impunidade” do crime. Lages, ainda de acordo com a PF, planejou “reiterados episódios de obstrução da investigação”.

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PF aponta que delegado arquitetou assassinato de Marielle
Domingos Brazão
Ex-chefe da PCRJ, Rivaldo Barbosa se dizia "amigo" de Marielle
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O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão

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PF aponta que delegado arquitetou assassinato de Marielle

Fernando Frazão/Agência Brasil
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Ex-chefe da PCRJ, Rivaldo Barbosa se dizia "amigo" de Marielle

Fernando Frazão/Agência Brasil

Ele foi escolhido para o posto pelo então chefe da Polícia Civil fluminense, Rivaldo Barbosa, acusado pela PF de planejar “minuciosamente” o assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes. Barbosa acabou preso neste domingo (24/3), enquanto Lages foi alvo de busca e apreensão e afastado de sua função policial.

O parecer da PGR reforça as acusações da PF e detalha que o chefe da Polícia Civil e Giniton Lages combinaram que as investigações “deveriam ser dirigidas de forma a não revelar os mandantes do crime”. O comissário de polícia Marco Antonio de Barros Pinto, auxiliar de Lages, também foi alvo da PF neste domingo. “Giniton Lages e Marco Antonio de Barros Pinto atuaram posteriormente aos delitos, com o fim de embaraçar as investigações e proteger os seus mandantes e executores materiais”, assinalou a PGR.

No livro lançado por Lages em 2022, o cenário é bem diferente. “Foi o caso mais difícil que enfrentei. […] Não consegui dormir naquela noite, pensando em tudo o que estava acontecendo”, escreveu Lages sobre o dia 15 de março de 2018, dia seguinte ao assassinato da vereadora.

“Quem matou Marielle? Os bastidores do caso que abalou o Brasil e o mundo, revelados pelo delegado que comandou a investigação”, de Lages e do jornalista Carlos Ramos, foi publicado em 2022. Em outro fragmento, Lages narrou como tomou o depoimento da jornalista Fernanda Chaves, única sobrevivente do atentado.

Quando foi se despedir de Fernanda Chaves, que estava muito abalada com a morte de Marielle, o delegado prometeu fazer de tudo para encontrar os assassinos.

“A lembrança mais marcante foi do momento em que ela se despediu de mim no aeroporto, com um abraço forte e demorado. Fernanda agradeceu toda a atenção que tínhamos dispensado a ela e chorou bastante. Em seguida, levantou a cabeça, olhou firmemente nos meus olhos e disse: ‘Por favor, vocês precisam prender quem matou a minha amiga e descobrir o motivo desse crime horrível’. Respirei fundo e respondi: ‘Você pode ter certeza de que faremos tudo para isso'”.

No último parágrafo do livro, Giniton Lages escreveu: “Acredito que eu e todos os policiais que participaram dessa investigação comigo honramos a vida de Marielle Franco e de Anderson Gomes. É esse resultado que buscamos todos os dias no nosso trabalho e em todos os casos. Como sempre digo, toda vida importa”.

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