Ainda tem como evitar o aquecimento global? Cientistas respondem

Pesquisas recentes apontam que seriam necessárias ações urgentes para conter os impactos mais devastadores das mudanças climáticas

atualizado 25/03/2025 17:00

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Foto colorida mostra emissão de carbono na atmosfera - Metrópoles - aquecimento global iStock

Os cientistas vêm alertando há muitos anos que o tempo para implementar ações para reduzir o aquecimento global está se esgotando. A cada novo estudo, o cenário se torna mais urgente: os limites para impedir que a temperatura média do planeta aumente já estão muito próximos.

Poucas atitudes foram tomadas, entretanto, e cada vez mais notícias se avolumam mostrando as consequências da demora. Um exemplo é o acelerado aquecimento dos oceanos confirmado pela Nasa no começo de março, em índices 37% maiores que os previstos.

Com isso, parece que o tempo disponível para a humanidade conseguir barrar as mudanças climáticas pode ter até passado. Ainda temos salvação?


Ações para reduzir as mudanças climáticas estão longe do esperado

  • Segundo o relatório State of Climate Action de 2023, apenas um dos 42 indicadores analisados, que são essenciais para limitar o aquecimento, está no rumo certo e alguns teriam que ser mudados completamente para cumprir as metas até 2030.
  • Outros teriam que ganhar uma velocidade muito maior. A política internacional de reflorestamento teria que ser ao menos 50% mais veloz para provocar a mudança esperada e as reduções no desmatamento teriam que ser 400% mais efetivas.
  • Seis indicadores seguem na direção errada e deveriam ser completamente modificados, incluindo a proteção aos mangues, a redução do uso de carros movidos a combustível e o aproveitamento de alimentos plantados e que não chega à mesa dos consumidores.
  • Segundo a análise do World Resources Institute, crises da conjuntura política e econômica, incluindo a quantidade de guerras ocorrendo no globo, as recessões e crises financeiras podem fazer o cenário ficar ainda mais desalentador nos próximos anos.

O cenário de lentidão na tomada de decisões coloca em risco não só a eficácia das ações de mitigação, mas também a confiança de muitos cientistas e ambientalistas. Para eles, no entanto, ainda existem caminhos que podem evitar uma catástrofe climática irreversível.

A oceanógrafa Regina Rodrigues, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (Inpo), que representou o Brasil na COP 29 em novembro de 2024, aponta que as soluções para reduzir o aquecimento global são mais claras do que nunca, mas dependem de um compromisso político mais firme.

“Ainda há meios, mas temos de fazer o que precisa ser feito. A gente está vendo hoje os efeitos do que os cientistas projetaram e falaram há 20, 30 anos. O que está faltando é vontade política de implementar as soluções apontadas pela ciência. Se tivéssemos começado essa transição há duas décadas, estaríamos em uma situação bem melhor agora”, diz ela.

Desinformação e aquecimento global

A desinformação é outro fator que tem dificultado o avanço das ações necessárias para combater o aquecimento global. A ecologista Marina Hirota, também da UFSC, pesquisadora de ecologia tropical do Instituto Serrapilheira, ressalta que, embora os cientistas estejam cada vez mais seguros sobre as causas humanas das mudanças climáticas, a resistência ao consenso científico persiste.

“Não podemos fechar os olhos para o sofrimento dos outros. Há gente morrendo, passando fome, perdendo tudo por conta da crise climática. Eu sou bem otimista e bem animada, mas, às vezes, tenho baixas. Parece que para cada novo estudo comprovando os efeitos, mais a desinformação se espalha e menos crédito se dá ao que a gente está fazendo”, lamenta.

Apesar da desinformação e dos retrocessos, Marina acredita que ainda há tempo para reverter parte dos danos, desde que se adotem mais estratégias de mitigação o mais rápido possível, já que o impacto das mudanças demora a ser observado.

“O sistema climático é muito complexo e depende de muitos fatores de balanço. Os efeitos do que já aconteceu vão demorar a encontrar um equilíbrio, mesmo se parássemos de emitir os gases do efeito estufa agora mesmo. E quanto mais emitirmos, mais difícil será para as gerações futuras desfazerem o problema e se adaptar para sobreviver. Nunca é tarde, mas vai ficando mais difícil”, indica a ecologista.

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O impacto no cotidiano

Os efeitos do aquecimento global não são algo esperado apenas para o futuro. Atualmente, a temperatura da Terra já aumentou em 1,5ºC. Caso a alta chegue a 2ºC, a previsão é que 30% da Terra fique tão quente que idosos não conseguiriam sobreviver nestas zonas.

E as consequências podem ser ainda piores se a crise climática continuar se aprofundando, especialmente em relação à escassez de recursos hídricos. As professoras alertam que os mais pobres e as populações em regiões periféricas serão os primeiros a sofrer.

“Mas, no final das contas, as mudanças climáticas afetarão a todos. Não tem escapatória para ninguém”, diz Regina.

Possibilidades de mudança

A mudança começa pela transformação do modelo econômico atual, que ainda privilegia o uso de combustíveis fósseis e o desmatamento quando há outras alternativas possíveis. Além disso, a adoção de tecnologias limpas e políticas públicas que incentivem a transição energética são essenciais para diminuir as emissões de gases de efeito estufa.

Também é necessário aumentar o incentivo ao reflorestamento, a diminuição das criações de gado e do consumo de carne aliados ao fim do desperdício de alimentos, além da adaptação das construções para torná-las mais eficazes o ponto de vista do uso dos recursos. Só assim será possível limitar o aquecimento global a 1,5°C e evitar as consequências mais graves deste desequilíbrio.

A pergunta, portanto, não é se é possível evitar o aquecimento, mas o que estamos fazendo para ser agentes desta mudança.

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