Goiânia – Vereadores de Nova Veneza, a 33 quilômetros de Goiânia, acirram debate em torno do episódio envolvendo o secretário municipal de Saúde, Deijar José do Carmo, investigado por possivelmente ter furado a fila de vacinação contra a Covid-19, conforme revelou o Metrópoles.
A reação dos parlamentares esquentou após entrevista do prefeito Valdemar Costa (DEM) ao Metrópoles nessa segunda-feira (8/2), dizendo que não autorizou o secretário a tomar a primeira dose da vacina, apesar de o gestor aparecer em vídeo aplaudindo o episódio.
Criticado pelo governador Ronaldo Caiado (DEM) e pela Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO), o episódio levantou discussão entre vereadores aliados ao prefeito e da oposição.
Presidente da Câmara, Fabrício Consolado Ribeiro (DEM) disse que “a situação é muito constrangedora para o município”. No entanto, segundo ele, a Casa ainda não se posicionou formalmente sobre o episódio porque aguarda a prefeitura tomar uma decisão.
“A Câmara ainda está esperando a decisão que vai ser tomada pelo Executivo”, disse. Segundo ele, “Deijar não agiu de má-fé”. “O secretário não trabalha só dentro do gabinete. Ele vai para a rua, visita as pessoas em tratamento em casa, acompanha a fiscalização [dos estabelecimentos]”, defendeu.
O vereador Jucelino Barros de Sousa (PSB), conhecido como Celino, que é da minoria de oposição, criticou o episódio e disse que a prefeitura deveria seguir critérios objetivos, já que há mais de mil idosos, a partir de 60 anos, na fila da vacina – 264 deles com mais de 80 anos. Casos de fura-filas se espalham por ao menos nove estados brasileiros.
Gravidade do caso
“Sou contra furar fila por mais que [o secretário] faça parte do pessoal que esteja visitando as casas. É grave porque tem muitos idosos esperando pela vacina”, afirmou Celino. “Fiz ofício hoje à Secretaria de Saúde pedindo esclarecimentos à população, o saldo de vacinas que chegaram, quantas pessoas foram vacinadas e quem são”, emendou.
Na segunda, o prefeito, que aparece em vídeo aplaudindo o momento da vacinação de seu secretário, também disse que, apesar de não ter sido responsável por autorizar a vacina em Deijar, este estaria cumprindo as funções que foram determinadas no início do ano.
“No dia em que assumi a prefeitura, chamei o secretário, falei que queria relatório todo dia das pessoas que estavam doentes. Quero que você vá a todas as residências e acompanhar a assistência do nosso pessoal com as pessoas com Covid”, contou Costa.
O prefeito, aliás, revelou ao Metrópoles essa semana que determinou a compra e distribuição de kit de medicamentos sem eficácia de combate à Covid-19: ivermectina e azitromicina. Ele também ressaltou que pretende adicionar cloroquina ao pacote que está sendo distribuído à população de Nova Veneza.
Investigação
O presidente da OAB-GO, Lúcio Flávio de Paiva, disse ao Metrópoles que lamenta as ocorrências de casos de fura-filas e é “favorável às investigações e eventual responsabilização dos gestores”.
De acordo com Paiva, a Ordem entende também que o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) tem feito uma “correta fiscalização para coibir e punir excessos”.
O MPGO informou que o procedimento administrativo já foi instaurado pela promotora de Justiça Elaini Cristina Alves Pires, e o município de Nova Veneza já foi oficiado a prestar os devidos esclarecimentos, para que possam ser tomadas as providências.
O Ministério Público também informou que até essa segunda a promotoria ainda não havia obtido resposta sobre irregularidade na aplicação da vacina no secretário municipal de Saúde. A Defensoria Pública da União já recomendou ao Ministério da Saúde implantar sistema contra fura-filas da vacinação.
