O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirmou, nesta segunda-feira (5/7), que irá protocolar pedido para instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com o intuito de investigar as denúncias de suposto esquema de rachadinha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O atual chefe do Executivo é acusado de utilizar esquema enquanto ocupava o cargo de deputado federal, de 1991 a 2018. Bolsonaro nega as acusações.
O envolvimento do presidente com o suposto esquema foi noticiado pela jornalista Juliana Dal Piva, do Uol. As gravações publicadas pela reportagem mostram Andréa Siqueira Valle, ex-cunhada de Bolsonaro, falando sobre o repasse ilícito de valores.
Diante disso, Vieira defende a instauração de uma CPI para apurar as denúncias. O senador classificou as acusações noticiadas como “gravíssimas” e cobra “apuração imediata”.
“Os fatos são gravíssimos e exigem apuração. O Senado tem legitimidade e estatura para fazer essa investigação, mesmo em um momento tão difícil da nossa história. Ninguém está acima da lei. Os fatos narrados são graves e exigem apuração imediata”, defendeu.
Áudios
As gravações mostram que o presidente não só integrava o esquema como era quem cobrava a devolução dos salários dos assessores de seu gabinete. Segundo Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, o então deputado federal demitiu o irmão dela porque ele não estaria cumprindo o combinado de devolver o valor acertado.
“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim, até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele, porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'”, disse Andrea em um dos áudios. Ouça aqui o áudio na reportagem.
Segunda denúncia
Em uma segunda denúncia, o chefe do Executivo federal é apontado como sendo conhecido na família Queiroz como “01”. Os áudios apontam diálogos entre a esposa e a filha de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, que já é investigado na apuração de “rachadinha”.
Nos áudios, mãe e filha comentam que Bolsonaro, que já era presidente, não deixaria Queiroz voltar ao cargo de assessor no gabinete de Flávio.
“É chato também, concordo. É que ainda não caiu a ficha dele que agora voltar para a política, voltar para o que ele fazia, esquece. Bota anos para ele voltar. Até porque o 01, o Jair, não vai deixar. Tá entendendo? Não pelo Flávio, mas, enfim, não caiu essa ficha não. Fazer o quê? Eu tenho que estar do lado dele”, disse Márcia. Ouça aqui.
Terceira denúncia
Na terceira, a jornalista mostra que não só Queiroz recolhia os salários de assessores, mas que outras pessoas também foram, supostamente, designadas para a tarefa. Um coronel da reserva do Exército, de nome Guilherme dos Santos Hudson, foi apontado pela ex-cunhada de Bolsonaro como responsável por cobrar parte do recebimento.
“O tio Hudson também já tirou o corpo fora, porque quem pegava a bolada era ele. Quem me levava e buscava no banco era ele”, afirmou Andrea. Ouça a declaração aqui.
A reportagem do Uol entrou em contato com o advogado do presidente, Frederick Wassef, que disse que os fatos não procedem. “São narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos.”