A possibilidade de construir a vida em outro país se tornou uma alternativa ainda mais atrativa com a chegada da pandemia de Covid-19. O desemprego e a alta inflação no Brasil mudaram as perspectivas de algumas pessoas, que passaram a buscar Portugal como uma chance de se reinventar.
Este foi o caso de Janete Sousa, de 42 anos. Ela trabalhava como consultora de vendas de veículos, mas a crise causada no setor pela paralisação da economia provocou uma demissão em massa na empresa. Sem nunca ter ficado mais de uma semana desempregada nos últimos 15 anos, ela se viu sem opções.
Uma amiga, então, propôs que Janete fosse para Portugal trabalhar como cuidadora de idosos.
Sem pensar duas vezes, Janete vendeu o carro e comprou uma passagem só de ida em outubro de 2021. A oportunidade de um bom emprego e mais qualidade de vida fez com que ela deixasse o Pará sem hesitar: “Já imaginava como ia ser aqui [em Portugal], com relação a emprego e temperatura, que são muito diferentes do Pará. Não tive grandes dificuldades porque já tinha comprado a ideia de como ia ser minha nova realidade”.
“Estou muito satisfeita com tudo que estou vivenciando. Sei que, no início, não é fácil para nenhum estrangeiro, mas tenho fé que com muito trabalho, foco e fé vou vencer e conseguir ajuda meus filhos que ficaram no Brasil”, declara ela.
A brasiliense Gabriella Pinho também se mudou para o país europeu em novembro, depois de se planejar por alguns anos.
O plano inicial era ir com o marido para os Estados Unidos. As passagens já estavam compradas, mas o país fechou as fronteiras e o casal não conseguiu fazer a entrevista na embaixada para mudar.
Surgiu, então, a oportunidade de ir para Portugal. “A língua e a expectativa de uma melhor qualidade de vida nos impulsionaram a escolher o país”, conta ela.
“Começamos a juntar dinheiro para mudar para outro lugar e decidimos que estaríamos abertos para trabalhar onde conseguíssemos. O fato de não termos filhos ainda ajudou a deixar o processo mais tranquilo”, explica Gabriella.
Uma das expectativas para essa nova fase é conseguir um emprego com o qual eles se identifiquem mais.
Gabriella ainda conta como é sua nova realidade: “Em pouco tempo em Portugal, já consegui perceber que a realidade econômica é diferente do Brasil. O custo de vida aumentou e não tínhamos mais uma qualidade tão boa. Aqui, o salário mínimo é menor, mas consigo fazer as compras no mercado mais tranquila, usar um transporte público bom e tudo é bem mais perto”.
Cresce ida de brasileiros para viver no exterior
De 2018 a 2020, o número de brasileiros que foram viver no exterior cresceu de 3,6 milhões para 4,2 milhões. Os dados são do Ministério das Relações Exteriores.
Outro levantamento, do Colégio Notarial do Brasil (CNB), mostra que as solicitações de visto no 2° semestre deste ano para estudo ou pedido de dupla cidadania somaram 693 mil. Trata-se de um crescimento de 131% em relação ao mesmo período de 2020, quando foram feitos 299,5 mil pedidos desse tipo.
Segundo o Itamaraty, em 2020 havia cerca de 276 mil brasileiros vivendo nas terras portuguesas.
Na Europa, os países com mais moradores oriundos do Brasil são Portugal, Inglaterra (220 mil), Itália (161 mil), Espanha (156,4 mil), Alemanha (144,1 mil), França (81,4 mil) e Suíça (22 mil).
