Rio de Janeiro – Ex-titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), o delegado da Polícia Civil Maurício Demétrio Afonso Alves foi preso na manhã desta quarta-feira (30/6), durante a Operação Carta do Corso, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro (Gaeco/MPRJ).
O delegado é acusado de comandar um esquema que exigia propina de lojistas da Rua Teresa, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, famosa pelo comércio de roupas, para permitir a venda de produtos falsificados. Outros cinco policiais também foram presos.
Os agentes têm como objetivo cumprir oito mandados de prisão preventiva e 14 de busca e apreensão, expedidos pela Vara Criminal Especializada da Capital. Maurício Demétrio foi preso em casa, em condomínio de luxo na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. A sede da delegacia, na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, também foi alvo de buscas.
Segundo o MPRJ e a Corregedoria da Polícia Civil, a equipe investigada da DRCPIM montou uma operação que resultou na prisão do delegado que apurava o esquema. Durante a ação, chamada de Raposa no Galinheiro, o delegado Marcelo Machado foi detido e acusado de ter montado uma empresa de confecção de roupas piratas — isso quando ele estava investigando a DRCPIM pela Corregedoria. Essa operação, no entanto, foi forjada.
De acordo com o MP, Machado tem uma estamparia e Demétrio, “utilizando uma conta falsa no WhatsApp para garantir o anonimato e alegando ter autorização dos titulares dos direitos autorais, encomendou a produção de 1.000 camisas”. “Demétrio conseguiu a expedição de mandados de busca e apreensão das peças de roupa, acabando por prender em flagrante o delegado Marcelo Machado e seu sócio”, explica o órgão, acrescentando que o pedido de busca foi feito antes mesmo de as camisas terem ficado prontas.
“A operação fake foi minuciosamente planejada e teve ampla cobertura jornalística, permitindo que Demétrio, após ludibriar o MPRJ e o Judiciário, tivesse espaço nos veículos de comunicação para caluniar e desacreditar vários daqueles que se colocaram como empecilho para a atuação da organização.”
O MPRJ diz ainda que a Operação Raposa no Galinheiro teve uma segunda fase e informou que os recursos arrecadados com o esquema, em sua maior parte em espécie, permitiram a Demétrio “desfrutar de um padrão de vida incompatível com seus recursos de origem lícita conhecida, tendo sido identificados diversos atos de lavagem de capitais envolvendo automóveis de luxo”.
O esquema, de acordo com as investigações, era dividido em núcleos: os Operadores em Petrópolis foram identificados como Alex Sandro Gonçalves Simonete, Ana Cristine de Amaral Fonseca e Rodrigo Ramalho Diniz e eram responsáveis “por ameaçar os lojistas e recolher os valores cobrados pela organização”. No núcleo da delegacia, foram identificados os policiais civis Celso de Freitas Guimarães Junior, Vinicius Cabral de Oliveira e Luiz Augusto Nascimento Aloise, além do perito criminal Jose Alexandre Duarte, “que executavam diligências como forma de represália aos lojistas que se recusavam a pagar os valores exigidos, chegando ao ponto de forjar provas e produzir laudo falso”.
Os denunciados vão responder por organização criminosa, concussão, obstrução de justiça, inserção de dados falsos em sistema, emissão de laudo falso e lavagem de dinheiro, cujas penas mínimas somadas superam 30 anos de reclusão. A condenação leva ainda à perda do cargo público.
A Associação da Rua Teresa (Arte) lamenta que lojistas do polo possam ter sido alvo de extorsão como apontam as investigações conduzidas pelo MPRJ e Corregedoria da Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro. Em nota, a Arte diz que espera “que todos os detalhes sejam esclarecidos e os culpados punidos”. A entidade reforça ainda que A Rua Teresa representa um importante setor econômico do município, reconhecido por gerar mais de 20 mil empregos diretos e indiretos, e representando, antes da pandemia, cerca de 14% PIB da cidade.